quarta-feira, 29 de abril de 2015

Cacau da Bahia reconquista status de produto de qualidade


Foto Cacau - Revista Época
Um grupo de 2.300 produtores de 83 municípios do sul da Bahia está prestes a receber autorização do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) para utilizar o selo de Identidade Geográfica 'Cacau Sul da Bahia'. O selo é resultado de reuniões realizados nos últimos sete anos e da criação da Associação Cacau Sul da Bahia e deve permitir que as amêndoas da região reconquistem o status de cacau superior com direito a cotação especial na Bolsa de Valores de Nova York.

A notícia que será confirmada pela associação no dia 24 de maio próximo, chega como uma lufada de ar fresco na região. Principalmente para os produtores que, apesar de nos últimos 26 anos sofrerem as consequências da crise fitossanitária causada pela Vassoura-de-Bruxa (VB), produzem 60% do cacau brasileiro. Sustentabilidade, incubadora de empresas e capacitação são termos que estão agora na ordem do dia.

Presidente da associação, o produtor Rodrigo Barreto diz que a documentação foi encaminhada para a unidade do INPI, no Rio de Janeiro, no final de 2014. De acordo com as exigências do órgão existe um prazo de cerca de seis meses para que o pedido seja deferido.

Rodrigo Barreto explica que a entidade foi montada em 2013, com o objetivo de gerir e proteger as amêndoas e o chocolate superior produzido na Bahia. Para tanto foi organizado um regulamento de uso com todos os critérios para obtenção de produção do cacau seco.

Entre estes, ensina, um mínimo de 65% de amêndoas fermentadas por lote, com coloração marron predominante (ardósia é aceitável) e, principalmente, sem qualquer traço de fumaça (usado equivocadamente na secagem), já que o aroma é um das qualidades mais apreciadas pelos especialistas.

Inovação tecnológica

A partir de 2007, o trabalho desenvolvido por técnicos da Ceplac contribuiu para a aproximação entre chocolateiros europeus e empreendedores locais que se destacavam pela capacidade de inovação tecnológica. Desde então passou a ser frequente a visita de chocolateiros europeus ao Brasil.

Com o envio de amostras do cacau brasileiro para a Europa, se iniciou um grande interesse do mercado europeu pelo cacau brasileiro para a produção de cacau fino, caracterizado pelo aroma e gosto (flavour) especiais, utilizados na produção do chocolate gourmet.

O cacau fino e o chocolate produzido por empresas da região sul da Bahia vêm se destacando nas principais feiras, festivais e salões do gênero no Brasil, a exemplo do Festival do Chocolate de Ilhéus, Festival do Chocolate de Belém, Salão do Chocolate de Salvador, bem como em eventos internacionais, como no Salão do Chocolate de Paris e o International Chocolate Awards, realizado em Londres, onde produtores brasileiros têm sido premiados.

Incubação de empresas

Desde 2002, a Ceplac instalou uma planta piloto visando à formulação de chocolate com elevada proporção de massa de cacau, estimulando o desenvolvimento da agroindústria regional. Os produtos concentram de 56,6 % a 70 % de massa de cacau.

Segundo a Ceplac, no processo de incubação de empresas, os produtores são orientados a produzir cacau de qualidade, que é classificado e destinado ao mercado como cacau fino, orgânico ou chocolate.

Os produtores são orientados a empreender seu próprio negócio, alugando plantas industriais para processarem o chocolate e promoverem o crescimento de seu negócio.

Ainda de acordo com a Ceplac, "a iniciativa estimulou o desenvolvimento de equipamentos para a industrialização do cacau e serviu de base para a implantação de diversas plantas industriais de empreendedores individuais e de cooperativas de produtores".

Apenas a Cachaça de Abaíra já possui o certificado

Segundo dados do INPI e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a Bahia possuía até março último apenas um produto com o certificado de Identificação Geográfica (IG) do tipo Indicação de Procedência. Trata-se da Cachaça de Abaíra, da Cooperativa dos Produtores Associados de Cana e seus Derivados da Microrregião de Abaíra (Coopama) que produz a bebida em sua sede desde 1998.

O município fica a 592 km de Salvador e possui população de 8 324 habitantes (IBGE, 2010). O produto tem origem na agricultura familiar e é fabricado em alambiques de cobre numa tradição de quase 200 anos.

As uvas de mesa e a manga produzida no Vale do Submédio do São Francisco estão em fase de avaliação. Mas, de acordo com o Mapa, o estado possui outros produtos com potencial para obter o IG: farinha, fumo, cacau, café, mandioca e derivados, mel de abelhas.

O potencial da IG para valorizar produtos regionais de reconhecida qualidade e tradição vem se difundindo no Brasil. Mas, pode demorar o tempo entre o selo ser conhecido e aceito nos mercados interno e externo.

Origem geográfica

As IG podem ser se de Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origem (D.O.) e ser referem a produtos ou serviços que tenham uma origem geográfica. Seu registro reconhece reputação, qualidades e características vinculadas ao local. Informam ao mercado que uma cidade ou região é especializada em fornecer um artigo diferenciado e de excelência.

A IP define o nome geográfico de um país, cidade ou região que se tornou conhecido como centro de produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço.

A D.O. traz detalhes de qualidade, estilo e sabor, e se relaciona também à terra, às pessoas e à história da região. As normas e controles são muito específicos sobre as quantidades máximas que podem ser colhidas e o processo de elaboração.


Fonte: Seagri-BA
por Marjorie Moura

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