segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Importação e liberação da vespa polinizadora do figo pode melhorar a qualidade da fruta

Uma equipe composta por pesquisadores da Embrapa, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) busca introduzir a vespa polinizadora Blastophaga psenes para a cultura de figo no Brasil, única que poliniza as figueiras cultivadas para produção de figos comestíveis. A Importação será feita pelo Laboratório de Quarentena "Costa Lima", da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP).

As variedades do figo comestível pertencem a uma espécie com indivíduos com sexos separados. Existem indivíduos funcionalmente femininos (os figos produzem sementes - quando polinizados) e indivíduos funcionalmente masculinos (os figos produzem pólen e seu vetor - as vespas). Assim, para que o mutualismo "funcione" é necessário que haja indivíduos dos dois sexos na população, senão as vespas acabariam depois da primeira polinização (elas morrem depois de entrar no figo, e se esse for um figo feminino, ela não deixa prole). Somente os figos funcionalmente masculinos são aptos à oviposição, pois os estiletes das flores têm tamanho compatível com o do ovipositor da vespa.

Dessa forma, como as vespas (ou melhor, as larvas) seriam trazidas em alguns ramos das figueiras (obviamente proveniente de plantas funcionalmente masculinas), seria interessante explicitar como a população dessas vespas seria mantida, seja por plantio desses ramos ou pela importação de outras árvores funcionalmente masculinas.

Apesar de elas não produzirem figos comestíveis (centenas de vespas emergem desses figos, o que não é muito apetitoso para a maioria das pessoas), elas são imprescindíveis para a manutenção das vespas

Conforme o pesquisador Cristiano Menezes, da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA), existem centenas de espécies de vespas que polinizam espécies selvagens de figos. Porém, essa é a única que poliniza as figueiras cultivadas para produção de figos comestíveis, Ficus carica.

Sobre as possibilidades de importação, Cristiano explica que a principal tentativa será feita a partir de Portugal, a qual já obtemos autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para importar. "Se não funcionar com as vespas provenientes de Portugal, tentaremos outras alternativas, principalmente da Califórnia e de Israel, onde há mais tradição no cultivo de figo e vespas adaptadas ao manejo agronômico do Ficus carica. Não temos informações sobre produtores de figo utilizando vespas na África do Sul".

Esta importação da vespa de Portugal será recebida no Laboratório "Costa Lima" onde será feita primeiramente a confirmação taxonômica da espécie e a limpeza dos possíveis contaminantes que possam estar presentes na amostra introduzida. Após os testes de laboratório no interior desta área de segurança, e a comprovada a eficiência da polinização dos frutos de figos, será então, solicitada a liberação de quarentena para uso desse material importado na cultura de F. carica, segundo o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Luiz Alexandre Sá.

Segurança
Conforme Larissa Elias, pesquisadora da USP, "as vespas responsáveis pela polinização das figueiras são altamente específicas. Há aproximadamente 800 espécies de figueiras no mundo todo e cada uma é polinizada por uma única espécie de vespa. As vespas têm vida muito curta quando adultas, aproximadamente 48h, e nesse período são atraídas por substâncias voláteis específicas que o figo libera".

Dessa forma, a chance e interação da vespa Blastophaga psenes com outras espécies de plantas ou de animais é muito pequena, pois ela vive pouco tempo e está obrigatoriamente associada a F. carica. Portanto, a introdução da vespa no Brasil é segura, com probabilidade muito pequena de interação com outras espécies e de causar algum desequilíbrio.

"A polinização dos figos pela vespa Blastophaga psenes pode permitir uma produção mais contínua, mas para isso teremos que, no primeiro momento, desenvolver pesquisas buscando adequar o ciclo de vida das vespas às nossas condições e às figueiras daqui. Além disso, uma grande vantagem com a polinização dos figos será a qualidade dos frutos, que apresentarão melhor sabor e maior tempo de prateleira", complementa Larissa.

Ainda de acordo com Larissa, o figo brasileiro "Roxo de Valinhos" começou a ser produzido em Israel recentemente. Como a vespa ocorre naturalmente nessa região, os figos estão sendo polinizados, mas com baixas taxas de sucesso. A nossa intenção é, quando a vespa for introduzida, direcionar as pesquisas para que a polinização do figo nacional seja otimizada. Os figos polinizados certamente terão mais aceitação no mercado nacional e internacional por apresentar melhores características como sabor e cor.

Para Fabiana Elias, também da USP, a introdução de uma espécie no país é um processo complexo que envolve várias etapas. Além de todas as autorizações e protocolos legais requeridos, serão precisos também estudos e experimentos para nos certificarmos que o processo de polinização ocorra com sucesso e que a técnica seja aproveitada da melhor maneira possível pelo agricultor. Esperamos que todas as etapas envolvidas sejam cumpridas em cerca de 3 anos.

A maior parte da produção nacional de figos concentra-se na região de Valinhos, estado de São Paulo, mas os estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina são também produtores tradicionais. Qualquer uma das regiões produtoras poderia se beneficiar da polinização dos figos. Mas a introdução da vespa polinizadora abriria a possibilidade de produzir outras variedades ainda não produzidas no Brasil. A variedade Smyrna, por exemplo, adaptada a climas áridos, se desenvolveria bem no Nordeste e possibilitaria a expansão do cultivo para esta região.

São parceiros a USP - Ribeirão Preto, a Unesp - Botucatu, o Departamento de Ciências Biológicas da Unesp de Bauru e a Associação dos Produtores de Figo de Valinhos.

Fonte: Cristina Tordin (MTB 28499) 
Embrapa Meio Ambiente

Sistema avalia gestão ambiental da produção integrada de morango

O Boletim de Pesquisa 67, disponibilizado pela Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) em outubro 2016, objetiva divulgar o trabalho de apoio aos produtores parceiros do Programa de Produção Integrada de Morango (PIMo) na região de Atibaia, SP, na elaboração de um Plano de Gestão Ambiental (PGA), cumprindo uma obrigatoriedade da Norma Técnica Específica da PIMo (NTEPIMo) para sua certificação.

A metodologia usada como base foi o Sistema de Avaliação de Impactos de Inovações Tecnológicas Agropecuárias - Ambitec-Agro ao qual foi introduzido o Módulo para a Gestão Ambiental da PIMo. Seis produtores foram acompanhados na safra 2011, mediante entrevistas e avaliações de campo referentes a indicadores de desempenho e ao atendimento das NTEPIMo. Os resultados foram válidos para identificar pontos fortes e fracos, bem como alternativas de manejo para diminuir os impactos negativos. No final de 2011, os seis produtores conquistaram o Selo de Conformidade da Produção Integrada Brasil.

Os auditores avaliam desde a preparação do solo/substrato, passando pela preparação/aquisição de mudas e condução do plantio, culminando com a colheita e pós-colheita. Vale destacar que todas as exigências trabalhistas/legais/jurídicas também são examinadas e o produtor deve apresentar registros de seu cumprimento.

Conforme Claudio Buschinelli pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), "um requisito fundamental na certificação é a rastreabilidade, ou seja, cada lote produzido deve ser etiquetado de tal maneira que se possa identificar sua procedência (talhão/canteiro, datas de cultivo e da colheita, dentre outras informações que atestem sua origem). Uma vez conquistada a certificação o produtor recebe um selo específico, que deve ser adicionado à embalagem do produto, comprovando que passou por todas as exigências".

A Produção Integrada é "um sistema que emprega tecnologias que permitem a aplicação de Boas Práticas Agrícolas (BPA) e o controle efetivo de todo o processo produtivo, por meio de instrumentos adequados de monitoramento dos procedimentos e rastreabilidade em todas as etapas, desde a aquisição de insumos até a oferta do produto ao consumidor final. Tem como finalidade a obtenção de alimentos seguros (isentos de resíduos físicos, químicos e biológicos) e com alta qualidade, produzidos dentro dos princípios de responsabilidade social e de menor agressão ao meio ambiente. Constitui-se numa evolução dos regulamentos públicos tradicionais em direção à normatização e certificação de processos produtivos."

Em outras palavras, continua o pesquisador, "o produtor é obrigado a apresentar um plano de gestão ambiental da atividade produtiva a ser certificada pela Produção Integrada. É exatamente neste ponto que as ferramentas de avaliação de desempenho socioambiental podem auxiliar na identificação dos impactos, no sentido amplo, que poderiam prejudicar de alguma maneira a sustentabilidade da produção".

As metodologias de avaliação de impactos ambientais (AIA) devem considerar, necessariamente, todos os compartimentos ambientais do território de influência da atividade em análise, inclusive a saúde das populações envolvidas. Sendo um instrumento de planejamento, deve ser realizado de maneira interdisciplinar podendo ter um caráter ex-ante ou ex-post ao empreendimento.

Plano de Gestão Ambiental

Considerando todas estas questões, o Sistema Ambitec-Agro combinado às NTEPimo foi usado como base para elaboração de um Plano de Gestão Ambiental, obrigatório para obtenção da certificação PI Brasil. O Sistema avalia os impactos da atividade sobre o ambiente, considerando duas vertentes. À montante do processo produtivo considera-se o uso de insumos e recursos, enquanto à jusante consideram-se os efeitos da atividade sobre a qualidade do ambiente, seja devido à emissão de poluentes quanto à conservação e recuperação de habitats naturais e áreas de conservação da biodiversidade. Dois aspectos são considerados com essa abrangência: eficiência tecnológica, com três critérios (uso de agroquímicos, uso de recursos naturais e uso de energia), e o aspecto qualidade ambiental, composto de cinco critérios (atmosfera, qualidade do solo, qualidade da água, biodiversidade e recuperação ambiental).

Foi possível obter um índice de desempenho ambiental da PIMo para cada produtor avaliado. Tal índice reflete, de forma quantitativa, a comparação entre o manejo adotado na safra de 2011 com o manejo anterior à introdução da PIMo. Valores negativos apontam impactos indesejados que servem de balizamento para ações de melhoria no manejo e gestão da atividade produtiva.

As avaliações foram realizadas com o apoio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) e da Prefeitura Municipal de Atibaia. Todos os produtores do estudo realizam, anualmente, análise de fertilidade do solo para fins de recomendação de adubação por meio de laboratórios credenciados, com laudos arquivados para registro e comprovação durante a auditoria de terceira parte.

Os autores da publicação são Claudio Buschinelli, Fagoni Calegario e Geraldo Stachetti Rodrigues (Embrapa Meio Ambiente), André Souza Serra (autônomo), José Semis (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento/Cati), Luciano Ferrara (produtor rural), Celina Abraão (Secretaria de Saúde de Atibaia), José Antônio Adami (Cati) e José Carlos Maziero (Prefeitura Municipal de Itatiba).

O trabalho pode ser acessado em 


Citros/Cepea: Maior demanda impulsiona cotaçoes da laranja pera

A procura por laranja pera no mercado in natura aumentou ligeiramente nesta semana. Embora os preços ainda limitem avanços significativos na demanda, o período de início de mes e o clima mais quente favoreceram o consumo da variedade.

Na parcial da semana (segunda a quinta-feira), a média da fruta foi de R$ 35,00/cx de 40,8 kg, na árvore, alta de 2,5% em relaçao r semana anterior. Quanto r lima ácida tahiti, o aumento gradativo da oferta da fruta miúda tem resultado em queda nos preços da variedade. A diferença entre os valores da fruta de menor e de maior qualidades já supera os 20 reais/caixa. Na parcial, a média da tahiti foi de R$ 67,87/cx de 27 kg, colhida, expressivo recuo de 14,1% em relaçao a semana passada.

Fonte: Cepea/Esalq

BRS Sena e fitossanidade são destaques no Congresso de Tomate Industrial

8º Congresso Brasileiro de Tomate Industrial, que será realizado em Goiânia, GO, nos dias 23 e 24 de novembro


Integrar os diversos segmentos da cadeia produtiva de tomate indústria – produção, pesquisa, extensão rural, empresas processadoras, etc. - tem sido a tônica dos eventos relacionados à cultura, a exemplo dos simpósios, encontros, seminários e congressos. O 8º Congresso Brasileiro de Tomate Industrial, que será realizado em Goiânia, GO, nos dias 23 e 24 de novembro, segue o roteiro, mas com releituras de temas a cada evento: "Integração agrícola e industrial", por exemplo, foi a temática escolhida para o próximo congresso com o objetivo de discutir questões acerca do relacionamento entre o setor produtivo do tomate e o segmento de processamento.

Parceira e apoiadora do congresso, a Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) tem marcado presença nas discussões sobre os temas abordados ao longo dos anos – o BRS Sena, primeiro híbrido nacional de tomate industrial, foi lançado durante o congresso de 2012. Na oitava edição do evento, o público participante vai conhecer mais uma característica atrativa do BRS Sena, comprovada nos ensaios conduzidos em áreas produtivas de Goiás – o híbrido de tomate industrial requer menos quantidade de água e de adubo nitrogenado, quando comparado com outros híbridos de tomate. "Essa redução influencia positivamente no total dos custos de produção, o que beneficia diretamente o produtor", destaca o agrônomo Ítalo Lüdke, supervisor da área de Transferência de Tecnologia.

De acordo com o agrônomo, além do diferencial do BRS Sena, os participantes do evento também serão apresentados às duas mais recentes publicações na área de fitossanidade produzidas pela Embrapa Hortaliças. O Comunicado Técnico "Vira-cabeça do tomateiro: sintomas, epidemiologia, transmissão e medidas de controle", produzida pelos pesquisadores Mirtes Lima e Miguel Michereff Filho, e a Circular Técnica "Guia para o reconhecimento e manejo da mosca-branca, da geminivirose e da crinivirose na cultura do tomateiro", dos pesquisadores Miguel Michereff Filho e Alice Nagata.

Congresso

Realizado a cada dois anos em Goiás, estado que produz mais de 70% do tomate industrial do País, o evento coincide com o final da safra de tomate para processamento, oportunizando aos atores envolvidos discutir problemas em comum, assim como compartilhar experiências para as respectivas soluções.


Fonte: Embrapa



PIB do Agronegócio cresceu 2,71% de janeiro a julho de 2016

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro acumulou alta de 2,71% de janeiro a julho de 2016, na comparação com igual período do ano passado, de acordo com estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). 

Em julho, o setor teve expansão de 0,13%. O segmento com melhor desempenho no ano é o básico (dentro da porteira), com alta de 3,96%, seguido por serviços (2,57%), insumos (2,4%) e indústria (1,65%).

O resultado foi puxado principalmente pela cadeia produtiva agrícola. Embora o segmento tenha apresentado queda de 0,04% em julho, o desempenho no ano é positivo, com crescimento de 3,6% em relação ao mesmo período de 2015. 

Todos os elos na agricultura tiveram alta até julho, com destaque para o setor primário (6,52%), em razão da alta dos preços e da expectativa de maior faturamento em culturas como soja, milho, cana-de-açúcar, café, trigo, cebola, cacau, banana, batata, laranja e mandioca. 

Serviços, insumos e indústria tiveram variação de 3,61%, 2,64% e 0,07%, respectivamente. Já a pecuária variou 0,52% em julho e registra expansão de 0,76% no acumulado deste ano. 

O segmento de insumos aparece na dianteira, com crescimento de 2,07%, reflexo do bom desempenho da indústria de rações. 

Agricultores investem na produção de desidratados orgânicos

O casal de agricultores familiares Norma Sueli Martins Siqueira e Eurípedes Almeida Costa abdicaram da vida na cidade e o trabalho no escritório de advocacia para investir em uma propriedade rural de 2 hectares no Distrito Federal. Há 11 anos eles se mudaram para o Núcleo Rural Sobradinho dos Melos, próximo ao Paranoá, e hoje possuem uma agroindústria de produtos desidratados orgânicos, a Desifrut.

A desidratação é o processo que elimina a água dos vegetais por meio de evaporação. A técnica é antiga e foi muito utilizada durante as guerras mundiais. Os alimentos continuam sendo fontes de vitaminas e os principais nutrientes são preservados. A grande vantagem é que esses alimentos podem ser armazenados por meses sem a necessidade de maiores cuidados, evitando também o desperdício. “A gente não produz tudo o que desidrata, mas temos parceiros, todos da agricultura familiar e produzem alimentos orgânicos. E como eles não possuem agroindústria, esta é uma forma de dar escoamento para a produção deles, porque o que ele não consegue vender, a gente compra e desidrata. A gente aproveita tudo”, diz Norma.

No Brasil, o mercado de desidratados tem crescido a cada ano, mas ainda é pequeno se comparado a outros países, como os Estados Unidos, que lidera o consumo e venda e alimentos desidratados. Por aqui, os agricultores já garantem um bom rendimento mensal com a comercialização. Eurípedes conta que alguns clientes costumam comprar e enviar os produtos até para o exterior. “Uma de nossas clientes costuma comprar até 25 sacos por vez e leva para a filha que mora na França”. 

Os agricultores têm conquistado principalmente o mercado de pessoas mais preocupadas com a saúde e que buscam alimentos mais saudáveis, orgânicos e advindos de sistemas agroecológicos. De acordo com Norma, ao mudar para a chácara, eles passaram a plantar. “Aos poucos nós fomos plantando de tudo um pouco e hoje temos um sistema agroflorestal, que respeita o meio ambiente e garante alimentos saudáveis”, afirma. 

A agroindústria de Norma e Eurípedes possui duas certificações de origem, o Selo de Identificação de Participação da Agricultura Familiar (Sipaf) e o selo de orgânico. “Sempre cultivamos sem o uso de agrotóxicos, mas os selos são importantes, porque também agregam valor ao nosso produto”, diz Norma Sueli. 
Atualmente, os produtos das Desifrut são comercializados no Ceasa do Distrito Federal e em algumas feiras da cidade. O casal pretende lançar um aplicativo para celulares que vai permitir a venda dos produtos online. “A procura é grande e isso vai aumentar nossas vendas”, prevê Norma.

Políticas públicas

Em 2004 Norma participou de programa Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) e conheceu a técnica para manipular os produtos desidratados. Os desidratadores foram adquiridos por meio de financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O primeiro, em 2005, logo após participarem da Ater para desidratados. E então conseguiram abrir a agroindústria. Em 2011, para aumentar a produção, financiaram um novo desidratador, com o dobro da capacidade e que permitiu aumentar a renda familiar.

Além disso, o casal já participou de algumas feiras promovidas pelo então Ministério do Desenvolvimento Agrário, atual Secretaria de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), como, duas edições da Feira Nacional da Agricultura Familiar (Fenafra) uma no Rio de Janeiro e outra em Brasília e a feira Saberes e Sabores dentro da II Conferência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Cnater) que aconteceu este ano em Brasília. Segundo os agricultores esses eventos são importantes para dar visibilidade e promover a comercialização dos produtos.

Agricultores do Vale do Ivaí conhecem tecnologias usadas na produção de frutas

No Paraná, a produção de frutas busca evoluir, principalmente na questão da agregação de valor e comercialização


O núcleo regional da Secretaria da Agricultura e Abastecimento de Apucarana organizou uma excursão ao Circuíto das Frutas, em São Paulo, para dar sequência à implantação do projeto de ampliação e melhoria da fruticultura nos 28 municípios que integram o programa Território do Vale do Ivaí, .

A viagem técnica teve como destino os municípios paulistas de Valinhos, Jundiaí e Louveira, tradicionais produtores de goiaba, uva e vinho, com alto padrão de tecnologia. A comitiva foi integrada por 82 pessoas, entre agricultores, representantes de associações rurais, Emater, Secretaria da Agricultura e Abastecimento, prefeituras, entidades de ensino superior e gestores do Território, com interesse na implantação de um polo de produção de frutas de qualidade e de turismo rural na região Norte do Paraná.

Os integrantes da Associação dos Municípios do Vale do Ivaí (Amuvi) já produzem frutas em escala comercial, como uva de mesa, banana, abacate, laranja, maracujá, goiaba, caqui, uva para vinho, morango e limão. No ano passado registraram um Valor Bruto da Produção – faturamento bruto pago aos produtores – de R$ 45,6 milhões, o que representou 1,51% sobre o VBP total da região (incluindo todas as culturas) que somou R$ 3 bilhões.

“O objetivo agora é ampliar a participação da fruticultura comercial no Vale do Ivaí e o faturamento dos produtores”, disse o chefe do núcleo regional da Secretaria de Agricultura e Abastecimento em Apucarana, Mário Bezerra Guimarães. Para isso, ele articulou a viagem técnica onde os produtores tiveram acesso a novas tecnologias de produção de frutas, legislação e novas formas de empreendedorismo.

A realização da viagem técnica representa um novo passo rumo à profissionalização da fruticultura no Vale do Ivaí. Antes disso, o núcleo regional da Secretaria da Agricultura em Apucarana já havia patrocinado a realização do 1º Seminário de Fruticultura e Conservação de Solos e Água do Vale do Ivaí, que motivou produtores e profissionais para o aperfeiçoamento técnico e exploração das potencialidades com o cultivo de frutas.

Segundo Bezerra, no Paraná a produção de frutas precisa evoluir, principalmente na questão da agregação de valor e comercialização. Outro ponto a ser destacado – salienta – refere-se à legislação de incentivo aos agricultores. Ele apontou como exemplo a legislação vigente no Circuito das Frutas, em São Paulo, que instituiu o programa de pagamentos por serviços ambientais no município de Louveira.

A lei, sancionada em 2013, teve como objetivo a implantação de ações para proteção dos recursos hídricos, sua qualidade e quantidade para proteção e formação de fragmentos de vegetação nativa e para adequação ambiental da propriedade.

Bezerra disse que vai distribuir cópia do texto da lei paulista para ser distribuída aos prefeitos e vereadores das cidades que compõem a Amuvi, na intenção de fazê-los conhecer a sincronia que predomina entre os poderes públicos e os interesses dos pequenos produtores do Circuito das Frutas, que foi relevante para a organização local.

Segundo o gerente regional da Emater de Apucarana, Cristovon Videira Ripol, a excursão técnica realizada nos municípios integrantes do Circuito das Frutas foi mais um passo importante, visando implementar um trabalho semelhante no Território do Vale do Ivaí. “Os participantes do evento, na sua maioria lideranças municipais e produtores, trouxeram muitas lições, entre elas a que precisamos valorizar nossos produtos e torná-los únicos e atrativos”, afirmou.

Para Ripol, “é preciso ter a coragem de empreender, organizar-se para bem receber turistas nas propriedades rurais, pois estamos próximos disso. Agora precisamos de foco, interesse e participação das administrações municipais como apoiadoras, para as vocações locais se consolidarem em oportunidades”, acrescentou ele.

Segundo a engenheira agrônoma da Emater Lúcia Socoloski, coordenadora do Território Vale do Ivaí, os participantes ficaram muito impressionados com as propriedades visitadas, considerando a possibilidade de implementação e ampliação de ações voltadas à produção de frutas e a expectativa de, num futuro, terem suas propriedades em condições também de receberem turistas.

POLO DE FRUTAS

Conhecido em todo o País, o Circuito das Frutas em São Paulo foi instituído em 2002, através de decreto do governo paulista. É um polo formado pelas cidades de Atibaia, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Morungaba, Valinhos e Vinhedo, no Sudeste do Estado de São Paulo. O trecho proporciona diversas atividades que deixam o turista em contato com a natureza através de trilhas, cavalgadas e cachoeiras; passeios e visitas a adegas de vinhos e licores, fazendas históricas de café, engenhos de cachaça, apiários e ainda, acesso à gastronomia típica.

Em Valinhos, a comitiva paranaense foi recepcionada no sítio Kusakariba, pequena propriedade de 60 mil metros quadrados que recebe, em média, 5.000 visitantes por ano, o que representa 30% do faturamento do sítio. Nessa propriedade, a goiaba é a principal cultura com predominância das variedades Tailandesa e Cascuda, ambas vermelhas. São 1.400 pés de goiaba instalados que proporcionam uma produção de 160 toneladas por ano. A comercialização é feita no Ceagesp e complementada com a venda direta ao consumidor, cujo valor da fruta varia de R$1,50 a R$ 5,00 por unidade.

Dotado de excelente infraestrutura, o local abriga espaço para seleção e embalagem das frutas, estacionamento, ambiente para recepção e alimentação de turistas, técnicos e estudantes que visitam constantemente o sítio em busca de lazer e conhecimento. O atendimento é feito pelos proprietários, além de seis funcionários fixos que cuidam da produção.

Em Jundiaí, o grupo fez parada na Adega Beraldo di Cale, onde os proprietários cultivam uva, fabricam vinho artesanal e cachaça, além de oferecer serviço de restaurante com comida italiana da fazenda. No ponto de venda, anexo, são ofertados todos os rótulos da adega, licores, queijos e produtos típicos da região. Também ofereceram palestra e degustação aos paranaenses. Chamou a atenção dos visitantes a existência de um caminhão de envase de vinho adquirido pelo consórcio do Circuito para atender os associados.

No município de Louveira, a comitiva visitou os parreirais do sítio Santa Rita, onde o empresário Daniel Micheletto apresentou um histórico da implantação e evolução do cultivo de videiras na região, cujo início deu-se com os imigrantes italianos que vieram substituir a mão de obra escrava na cultura do café no início do século 20.

“Em 1933 apareceu, em Louveira, na vinha de Antônio Carbonari, uma cepa de Niagara Branca, ostentando em alguns ramos cachos de bagas vermelhas e que foram descobertos pelo viticultor Aurélio Franzini. Nasceu assim a mutação somática Niagara Rosada, que se tornaria a uva de mesa mais cultivada no Estado. Na época o bairro de Traviú, onde ocorreu o fato, estava ligado a Louveira e ambos pertenciam ao município de Jundiaí”, disse o palestrante sob a sombra das videiras da pequena propriedade de dois alqueires, que também abriga a fábrica e Adega de Vinhos Micheletto.

Após a palestra no parreiral, os visitantes seguiram para a vinícola onde conheceram o processo de elaboração de diferentes tipos de vinhos ali fabricados.

Em seguida, o grupo foi conduzido até a loja onde são comercializados artigos artesanais produzidos no território do Circuito das Frutas, dentre eles salames, queijos, compotas, doces e geleias. Houve degustação de vinhos, suco de uva e grapa. Cerca de 80% da renda do sítio Santa Rita provem do turismo rural.

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