terça-feira, 17 de março de 2015

Produtor faz fama com plantas e frutas exóticas


Localizada a cerca de 105 quilômetros de Sorocaba (e a 230 km de São Paulo), Campina do Monte Alegre se destaca na agricultura, em especial pelos sabores e aromas exóticos das árvores cultivadas num pomar que ultrapassa 1.300 espécies de frutas. A iniciativa foi do agricultor Helton Josué Teodoro Muniz, de 34 anos. Além de contribuir para a preservação de espécies nativas e raras, o hobby que começou por simples curiosidade e maneira de superar uma deficiência se tornou em negócio para a família Muniz. Atualmente, seus familiares não apenas abrem as portas do pomar para divulgar as centenas de espécies vindas de várias partes do Brasil e do mundo como mantêm um viveiro com mudas de mais de trezentas espécies para comercialização. Os valores das mudas variam de R$ 15 a R$ 70, dependendo da espécie, no entanto, a maior parte das mudas custam em torno de R$ 20, calcula Helton Muniz.

Aos 15 anos de idade, quando mudou-se com a família, de Angatuba para uma fazenda no município de Campininha, onde moravam seus avós, Helton passou a se interessar mais pela natureza, em especial pelas plantas raras e exóticas. A palavra que o despertou para esse curioso mundo novo, na época, soava de certa forma estranha. "Saputá" chegou aos seus ouvidos por meio de pescadores locais. O fruto que na realidade se tratava de um cipó que crescia às margens do rio era usado como isca para a pesca do pacu (espécie de peixe), no rio Paranapanema. Também alimentava os pescadores, pois o cipó produzia frutos amarelos e adocicados do tamanho de um limão galego, compara. "A partir dessa minha curiosidade passei a perceber o infinito mundo das frutas nativas brasileiras", revela.

As consultas a dicionários, revistas e catálogos sobre o assunto se tornaram constantes, desde então. "Ia procurar para ver se existia mesmo aquela espécie." A partir disso começou a se interessar e a se familiarizar cada vez mais com a extensa lista de nomes científicos e origem das plantas e frutas. "Passei a me empenhar na busca dessas frutas silvestres desconhecidas." Helton explica que boa parte das árvores exóticas e raras conseguiu através de outros colecionadores, enquanto as nativas identifica em florestas, matas e cerrados do Brasil, em visitas que faz. Ele atribui esse recorde alcançado em 18 anos de cultivo ao um dom e à sabedoria que adquiriu ao longo dos anos.

Ainda existem espécies não identificados ou denominados pela ciência, mesmo em regiões do próprio Estado de São Paulo. "É dado (dom) por Deus. Ele também me abençoou muito e continua me ajudando a resgatar, juntar e preservar as frutas que são maravilhosas obras criativas suas", ressalta o agricultor.

País tropical

A variedade de frutas no Brasil chama a atenção, mas o que a maioria não sabe é que a boa parte das espécies consumidas são originárias de outras localidades. Entre as frutas mais procuradas está a banana e o limão, ambos do Sudeste Asiático; abacate, da América Central; laranja, caqui, manga, maçã, pêssego e tangerina da Ásia; e abacaxi, goiaba e maracujá, do Brasil. No pomar e viveiro Saputá, de Campininha, o nosso abacaxi pode ser encontrado em cinco diferentes variedades. Mas o destaque são as raras e exóticas como a árvore de azeitona do Ceilão. Parece um abacateiro, com fruto gigante, no entanto, sem parentesco com a azeitona. É originária da Ásia, de países como a Malásia, Índia e Sri Lanka, que é uma ilha antes chamada Ceilão. Seu nome científico: Elaeocarpus serratus.

Tamarindo doce (Índia), tomatilho (Venezuela), maçã (Ilha de Madagascar), Vinagreira (África), Umê (Japão e Coreia), quatro variedades de uvas (Israel e Ásia), Pinha (Caribe), Nóz Pecãn (Estados Unidos), Noní (Haiti) e Nêspera Européia (Espanha e Alemanha). A lista é extensa. O trabalho no pomar e viveiro envolve não apenas a descrição e histórico de cada fruta, mas a classificação: que atraem pássaros, nativas do Brasil, exóticas vindas de outros países, de cipó, para vasos, melíferas e as mais saborosas.

Parente da jaca

Em foto cedida à reportagem, Helton carrega uma fruta de 24 quilos, que seria uma parente da jaca. Seu nome científico é Treculia africana. É popularmente conhecida como árvore do feijão ou feijão africano. Ainda ukuwa, zilo ou breadfruit africana. É originária da Nigéria e Madagascar. depois de nove anos de espera, conta, teve a alegria de conferir essa raridade frutificar no sítio, pela primeira vez, em abril de 2010, porém, até 2013 o fruto não produziu as valiosas sementes comestíveis, mas em fevereiro de 2014 foi surpreendido com a gigantesca fruta de 24 quilos. A fruta produziu 1,6 quilos de sementes.

Helton explica que a árvore da Treculia atinge de 8 a 15 metros de altura e pode ser cultivada em clima subtropical, resiste à geadas de 3º C, e aprecia qualquer tipo de solo bem drenado e profundo. Frutifica no fim do verão. O fruto precisa entrar em decomposição para facilitar a remoção das sementes. As sementes são comestíveis. Podem ser torradas, cozidas em sopas ou da mesma forma de feijão. Também é possível se fazer doces e farinha para ser utilizada em diversas receitas.

Conhecendo as frutas

Para ajudar as pessoas a conhecerem melhor as frutas, seus nomes científicos e para que servem, Helton criou o site http://www. colecionandofrutas.org/. Basta enviar fotos da flor, fruto ou das sementes pelo e-mail hnjosue@ig.com.br. Ele promete pesquisar e identificar a espécie sem qualquer custo. A única coisa que pede é o plantio das sementes da fruta, e se a pessoa desejar cultivar outras frutas raras poderão receber as sementes (mais de cem espécies para escolher), produzidas em seu pomar em troca da descoberta interessante. É só conferir no site a lista de sementes para troca ou venda.

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

Nenhum comentário:

Postar um comentário