quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Moscato Branco- uma cultivar tipicamente brasileira

Também foi parte do evento a apresentação sobre a limpeza fitossanitária


Apesar de ser também conhecida como ‘Moscato Italiano', a 'Moscato Branco', cultivar referência da Indicação de Procedência Farroupilha para vinhos finos moscatéis, não apresenta identidade com nenhuma das centenas de cultivares de uvas aromáticas moscatos descritas na viticultura italiana. Segundo registros apresentados pela pesquisadora e coordenadora do Programa de Melhoramento Genético da Uva da Embrapa Uva e Vinho, Patrícia Ritschel, durante seminário técnico sobre a cultivar, no dia 10 de janeiro, em Bento Gonçalves (RS), a Moscato Branco já estava presente na Serra Gaúcha em 1932, quando foi introduzida na coleção da antiga Estação Enológica para multiplicação e distribuição para os viticultores. Diversos estudos, inclusive com a participação de pesquisadores estrangeiros, auxiliaram na caracterização molecular por meio de testes de DNA, que confirmam que ela tem identidade comprovada e não é uma mistura de materiais.

Também, por meio da ampelografia (análise morfológica das diversas partes da videira, como os brotos, as folhas , os cachos e as bagas), chegou-se à conclusão de que são fortes os indícios de que a Moscato Branco, que responde por cerca de 50% do volume de produção das uvas moscateis do País, só é cultivada comercialmente no Brasil. A próxima etapa é compará-la a cultivares do tipo moscato mantidas em coleções de outros países, como Portugal, o que deverá resultar na prova definitiva do seu cultivo exclusivo em solo brasileiro.

A pesquisadora Patrícia Ritschel também apresentou uma ampla caracterização dessa cultivar, com o objetivo de identificar clones de valor agronômico e enológico, que posteriormente serão disponibilizados com sanidade superior, após limpeza de vírus e outras doenças fúngicas.

De acordo com Mauro Zanus, chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, a produção da cultivar 'Moscato' é uma grande oportunidade para o setor. "Podemos diferenciar o vinho brasileiro e resgatar variedades históricas, como é o caso da ‘Moscato Branco'. Vamos fazer vinhos diferentes com variedades diferentes", propôs Zanus na abertura do seminário, promovido pela Embrapa e pela Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin), e que reuniu cerca de 80 produtores, técnicos, extensionistas e estudantes. 

Na avaliação do agrônomo e consultor Valdemir Bellé, o trabalho que vem sendo feito com a cultivar 'Moscato Branco' é importante para a vitivinicultura. "A cultivar é histórica na região e fazer o seu resgate, a limpeza, a identificação e a caracterização das cultivares e dos clones relacionados ao moscato e do polo produtor de Farroupilha são fundamentais para o seu uso e sua potencialidade em relação aos espumantes moscatéis", avaliou.

João Carlos Taffarel, presidente da Afavin, destacou a importância do trabalho com as uvas moscato, em especial com a ‘Moscato Branco', para o avanço da Indicação Geográfica de vinhos da região. "Neste segundo semestre de 2016, colocamos no mercado os primeiros vinhos certificados. Para nossa surpresa, foram aprovados 13 produtos, totalizando 397.505 selos de Indicação de Procedência concedidos e já disponíveis para o público", celebrou.

Fabiano Fávero, produtor de uva moscato em Farroupilha, ficou entusiasmado ao falar sobre as ações apresentadas, pois não imaginava que a Embrapa estivesse fazendo um trabalho tão completo. "É uma esperança para nós produtores. Achei interessante a parte de limpeza do material, pois já cobrávamos há anos e não sabíamos que já estavam fazendo". Fávero começou a plantar a cultivar 'Moscato Branco' por solicitação da Cooperativa Garibaldi, para quem vende a uva. O produtor também aprovou as orientações repassadas sobre os cuidados com as mudas, pois serão importantes para o trabalho de renovação de vinhedos, que está realizando com acompanhamento técnico da Embrapa.

Mais sobre o seminário técnico

Paulo Adolfo Tesser, produtor de uvas moscato e engenheiro agrônomo da Cooperativa São João, uma das vinícolas associadas à Afavin, falou sobre a grande importância da cultivar moscato no Rio Grande do Sul e no município de Farroupilha, que responde por quase 50% da uva moscato produzida no Estado. Em termos de produção, é a uva que mais produz e que mais cresceu em área nos últimos dez anos; sua produção é direcionada para espumante e vinhos aromáticos. "Alta produtividade, brotação tardia (o quê a faz escapar das geadas primaveris), boa procura no mercado e preço variado são os maiores atrativos para optar por essa cultivar", resume Tesser. Ele apresentou um panorama da produção em Farroupilha, no qual destacou como um dos problemas a idade avançada dos vinhedos.

Também foi parte do evento a apresentação sobre a limpeza fitossanitária, ou seja, a retirada de vírus e outros microrganismos que podem prejudicar a produção das tradicionais cultivares moscato coletadas na Serra Gaúcha, pela equipe do Laboratório de Cultura de Tecidos, com a coordenação da pesquisadora Vera Quecini. Ela mostrou as etapas que estão sendo realizadas para ofertar mudas de qualidade superior, e os aspectos que levam o processo ser demorado, de três a dez anos, dependendo do tipo de patógeno a ser removido e da regeneração do tecido da planta.

O coordenador do Programa de Mudas de Qualidade Superior, o agrônomo Daniel Grohs, apresentou todo o processo que vem sendo realizado para disponibilizar materiais de qualidade superior aos viveiristas e produtores, e foi enfático ao reforçar o papel do produtor: "a qualidade do material básico vegetativo só permanecerá se o processo de produção da muda for de qualidade e o plantio da muda na área definitiva também for de qualidade. É necessário o procedimento operacional padrão para garantir parreirais sadios e longevos", ponderou.

Ao final do Seminário e da parte prática sobre mudas de qualidade e o trabalho de limpeza de mudas, os participantes visitaram o vinhedo vitrine de uvas moscato, onde são realizadas as pesquisas de manejo e caracterização das plantas, e ainda degustaram os vinhos elaborados a partir das uvas de cada um dos clones potenciais que estão sendo avaliados.


Fonte: Embrapa

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