quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Helicoverpa armigera: “Brasil não pode viver só de agricultura orgânica”

Um dos maiores desafios vividos pelo setor produtivo rural brasileiro é a falta de soluções para a proteção dos cultivos. A chegada da Helicoverpa armigera, há três anos, escancarou os sérios problemas estruturais do setor público que deveria amparar os agricultores afetados pelas diversas pragas e doenças que assolam um país de clima tropical.

Os problemas brasileiros vão desde a morosidade na avaliação e registro de produtos de defesa vegetal, passam pelo famigerado uso político dos órgãos que deveriam ser técnicos e acabam nos entraves ideológicos que fazem com que uma solução demore até cinco anos para chegar ao campo. Ouvida com exclusividade pelo Portal Agrolink, a Doutora em entomologia Cecilia Czepak analisa as agruras que afetam o setor nesta última reportagem da série “Helicoverpa armigera”.

“A obtenção de registros é extremamente morosa no país. Os responsáveis precisam ouvir as classes produtivas, pois não é possível manter os maiores interessados fora desse sistema. É necessário que eles saibam o que os produtores passam no campo, para saberem dosar melhor as regras no momento de liberar esse ou aquele produto, sem é claro, comprometer o consumidor e o meio ambiente”, aponta. 

A especialista não considera ultrapassado o sistema brasileiro que divide a tarifa entre Anvisa, Mapa e Ibama: “Cada um cumpre o seu papel nas áreas que lhes são atribuídas, mas alguns precisam se atualizar um pouco mais sobre os verdadeiros problemas da agricultura, e deixar de fazer um pouco esta política ‘socioambientalista’”. 

“O Brasil não pode viver só de agricultura orgânica, infelizmente. O país precisa produzir, pois a agricultura é que tem sustentado nossa economia. Produzir exige tecnologia, portanto, neste caso, os agroquímicos não podem ficar de fora. O que precisamos talvez são leis que exijam dos produtores a adoção destas tecnologias de forma discriminada e com consciência, e que venham a ser fiscalizados de forma contínua pelos órgãos competentes”, sustenta Cecilia. 

Ela aponta ainda o problema da fiscalização sobre como se está utilizando esse produto no campo: “é muitas vezes falha. Isso porque não temos uma política de manutenção dos órgãos fiscalizadores no campo, que sofrem continuamente cortes de verbas e de pessoal, tornando a fiscalização quase impossível num país com a extensão territorial do Brasil”.

“Entretanto, não seria somente essa a mudança, pois enquanto os nossos governantes continuarem a rifar os altos cargos, colocando pessoas do seu interesse partidário em detrimento ao setor e não levando em conta o grau de conhecimento técnico do responsável pela pasta, tenho dúvidas sobre qualquer mudança. Estamos a mercê de interesses muitas vezes político-partidários, e isso é uma pena”, analisa. 

“Os altos cargos do governo só poderiam ser preenchidos por pessoas da área, que tenham passado por concurso público, sem o incômodo da indicação política. Assim talvez acabariam, ou, pelo menos, diminuiriam esses desmandos no país. No mínimo não haveria cobranças de interesse exclusivamente partidário, como as que acontecem atualmente”, conclui.

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