quarta-feira, 29 de junho de 2016

O futuro de um mercado mais concentrado de sucos

O mercado de sucos e cervejas está mais concentrado no Brasil. Nos últimos meses, diversas empresas entraram no Brasil ou expandiram sua presença por meio de aquisições.

A consolidação é positiva para o mercado, segundo analistas ouvidos por EXAME.com, pois pode aumentar a força de distribuição das marcas adquiridas e incentivar um aumento no 
consumo de sucos, setor ainda pouco explorado por aqui.

A Ambev anunciou a compra das cervejarias Wälls, de Minas Gerais, e a paulista Colorado, além da fabricante de sucos do bem. Ela também pode comprar uma fábrica da Brasil Kirin.

A Coca-Cola adquiriu a Ades, da Unilever, por US$ 575 milhões e a inglesa Britvic incorporou a Ebba, da Maguary, para entrar no mercado brasileiro.

Mais forte e mais presente

O aumento da concentração no mercado de bebidas é, em grande parte, influenciado pela crise econômica no Brasil, afirma Paulo de Tarso Petroni, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil). A inflação e do endividamento da população crescentes "têm comprimido a renda para o consumo de produtos como cerveja", afirmou.

Segundo ele, apenas as grandes companhias têm mais força para passar por esses momentos. "Quando o mercado e o consumidor mudam, essas empresas têm agilidade e fôlego para atender o cliente", disse Petroni.

Para Petroni, o tamanho também é necessário para ter uma ampla rede de distribuição que alcance os 1,2 milhão de pontos de venda do país.

O mercado de cerveja no Brasil já é bastante concentrado. Apenas 4 empresas controlam 96% das vendas, que chegam a 14 bilhões de litros todos os anos, segundo a CervBrasil, que atende essas companhias. 

Como as microcervejarias e cervejarias artesanais não têm escala ou força de distribuição, elas se diferenciam pelo sabor. Agora, com a compra da Ambev, a Wälls e a Colorado ganham capacidade de distribuição.

Futuro doce

Já no setor de sucos, o cenário é outro, bem menos concentrado. "As empresas não têm tanta força de 
distribuição, que é indispensável nesse mercado", afirmou Adalberto Viviani, presidente da Concept, 
consultoria especializada em bebidas e alimentação. Como os sucos têm uma margem menor de lucro, precisam ter um grande volume de vendas para compensar. 

A força financeira também é um fator importante. "Você compra as frutas na safra, congela, prepara e só vai vender muito tempo depois. Isso requer um capital de giro elevado", disse o consultor. Por isso, a tendência é que as empresas se reúnam ao redor de grandes estruturas de distribuição.

Por trás das aquisições também estão estratégias para aumentar o portfólio de grandes companhias. Quando o grupo inglês Britvic comprou a Ebba, dona da Maguary, ele adquiriu seu ingresso de entrada no mercado brasileiro, disse Viviani.

Já a aquisição da Ades, que pertencia à Unilever, pela Coca Cola tem o objetivo de ampliar o portfólio da companhia em bebidas além do refrigerante.

A empresa de refrigerante está tentando ser mais "saudável". Ela lançou o Del Valle 100% Suco e a Coca-Cola Life, que substitui 50% dos açúcares da cana pelo adoçante natural estévia e, nos Estados Unidos, está investindo em leite enriquecido e em bebidas com aloe vera.

Essa movimentação do setor pode ser benéfica inclusive para as pequenas empresas de sucos, pois pode estimular o aumento no consumo da bebida.

O consumo per capita de sucos no Brasil ainda é pequeno – em 2014, foi de 3,3 litros por habitante por ano, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerante e Bebidas não Alcoólicas, Abir.

Por isso, há espaço tanto para os grandes quanto os pequenos fabricantes. “A Ambev, com a do bem, não vai crescer em cima dos pequenos, mas sim de pessoas que ainda não consomem suco”, disse o consultor.

Segundo ele, há oportunidade de consolidação nos nichos, com preço médio mais elevado, que não depende tanto de uma grande estrutura de distribuição. Por isso, o futuro dos fabricantes de suco no brasil pode ser mais doce.

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