sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Menos veneno, mais saúde

Alimento orgânico é bom não só para quem compra, mas também para quem vende. Anaíldo Porfírio da Silva é prova disso. O presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar do Assentamento Chapadinha (Astraf), no Distrito Federal, trabalha com 44 famílias que buscam levar mais saúde para dentro e fora das lavouras. E o momento de transição do sistema convencional para o orgânico tem dado certo: hoje, mais da metade dessas famílias já produzem alimentos livres de agrotóxicos. 

De acordo com dados do Governo Federal, só no ano passado, mais de 11 mil agricultores estavam no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, sendo que mais de 80% eram agricultores familiares certificados. “O mercado de orgânicos é um mercado promissor. Ele tem crescido muito e a gente vê que os consumidores estão preocupados com isso, estão aderindo. E tem ainda a interação do consumidor com o agricultor, de saber de onde vem o alimento. Muita gente quer saber como produz e quer ir lá ver, é uma experiência muito importante”, relata Anaíldo, que também está no cadastro. 

A transição para os associados do Assentamento Chapadinha não foi fácil. Eles precisaram sair da zona de conforto para aderir um sistema diferenciado. Mas os benefícios logo apareceram. “Em 2008, começamos esse trabalho com seis famílias e depois atingimos 28 e continuamos crescendo. E a renda aumentou mais de 50% depois da produção de orgânicos”, conta Anaíldo. 

Alimentação escolar

Por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), a Astraf também começou a fornecer alimentos, tais como, acelga, alface, batata doce, beterraba, cebola, cenoura, couve, mandioca, maxixe, pepino, pimentão, repolhos branco e roxo e tomate para a alimentação escolar dos estudantes do Instituto Federal de Brasília (IFB). Em média, são vendidos 400 quilos de alimentos por semana.

Riva Andrade, nutricionista responsável pela Unidade de Alimentação e Nutrição do Campus Planaltina do IFB, fala da importância de se consumir orgânicos. “A alimentação dos alunos precisa ser a mais saudável possível, porque, além de interferir diretamente no rendimento escolar, agrega a qualidade à vida deles”, diz. 

Além disso, Riva acha que alimentos vindos diretamente do campo são um diferencial. “A aquisição de produtos orgânicos concomitantemente à agricultura familiar é uma importante contribuição com o incentivo dos dois segmentos no nosso país”, comenta. 

Valores

Anaíldo discorda de quem acha que orgânico custa mais que os produtos convencionais. “Nem sempre é. Se você for num mercado grande, o pé de alface custa em média R$ 6. As nossas alfaces, nos pontos de comercialização que temos, custam entre R$ 3 e 3,50. A gente está cuidando do meio ambiente, trazendo saúde para os consumidores e para as próprias famílias dos agricultores familiares, né? E saúde para o bolso também”, diz. 

Até o final de 2016, a estimativa é que o mercado nacional de orgânicos movimente R$ 2,5 bilhões, segundo o Projeto Organics Brasil, desenvolvido pelo Instituto de Promoção do Desenvolvimento em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). 

Outra iniciativa que movimenta o setor é a Biofach, a maior feira de orgânicos e agroecológicos do mundo, realizada na Alemanha. Para a edição de 2017, serão selecionados 13 empreendimentos da agricultura familiar que produzem orgânicos. 

“Nessas feiras internacionais, há um fluxo muito grande de compradores e nichos de mercado para produtos que agregam valor. É uma vitrine importante para os produtos orgânicos, agroecológicos e da biodiversidade produzidos pela nossa agricultura familiar. Na edição passada, os acordos firmados foram na ordem de 15 milhões de dólares. Em 2017, isso deve aumentar, porque ficamos mais conhecidos. Muitas negociações se iniciam na feira e são fechados depois”, comenta o chefe da Assessoria Internacional e de Promoção Comercial da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, Hur Ben Corrêa da Silva. 

Planapo

O Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) é uma iniciativa que busca fortalecer e ampliar os sistemas de produção orgânicos e de base agroecológica. O Plano entra em seu segundo ciclo com 194 iniciativas e 30 metas para promover a soberania e segurança alimentar e nutricional, o uso sustentável dos recursos naturais e a conservação dos ecossistemas naturais, entre outros. “Quando a gente fala em desenvolvimento sustentável, que não é simplesmente gerar renda e produtividade, falamos em promover um desenvolvimento completo do País e das pessoas”, destaca o secretário substituto da Secretaria de Agricultura Familiar da Sead, Everton Ferreira. Leia mais sobre o Planapo aqui

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