sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

No Brasil, o combate é mais difícil

Se as moscas-das-frutas têm tirado o sono dos fruticultores brasileiros, a escassez de produtos para o combate às pragas assusta ainda mais. Atualmente, existe no Brasil um movimento de proibição de produtos químicos comprovadamente eficientes, mesmo sem substitutos aprovados para uso no País, fato que tem levado uma sensação de insegurança ao campo. Para os especialistas, a questão é muito mais ideológica do que científica e pode até colocar em risco a produção brasileira de frutas. O movimento foi “importado” da Europa, meca dos ambientalistas, onde o agronegócio sobrevive graças aos polpudos subsídios dados por governos para que os produtores rurais se mantenham na atividade.

Por lá, muitos defensivos já foram retirados do mercado sob o argumento de serem nocivos aos humanos e ao meio ambiente. Há alguns anos, a Europa baniu o uso dos inseticidas organofosforados, amplamente utilizados desde os anos 1960 e até hoje um dos mais eficazes no combate às moscas em todo o mundo. No Brasil, são usados inclusive no controle de pragas urbanas, como o Aedes aegypti. Os fosforados têm uma característica que o torna necessário em alguns casos: eles são os únicos defensivos que combatem as larvas dentro dos frutos - caso da mosca-da-carambola. Mesmo assim, influenciadas pelos europeus, as autoridades brasileiras decidiram proibir a utilização de vários produtos fosforados na fruticultura.

“Em países como Dinamarca, Finlândia e Suécia, a utilização desse grupo químico muitas vezes é desnecessária, pois a área cultivada é reduzida, o inverno é rigoroso e as lavouras estão livres de pragas importantes como as moscas-das-frutas”, afirma Marcos Botton, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho. “Eles são usados no restante do mundo com sucesso e são fundamentais em estratégias de manejo da resistência”, explica. As regras para uso desses produtos também são confusas no Brasil. Existem hoje substâncias proibidas para uso na agricultura, como triclorfom e fenthion, que são autorizadas para uso animal, dificultando a compreensão dos critérios que levam ao banimento de determinados produtos.

Outra dificuldade é a falta de registro de agroquímicos para algumas culturas de menor escala, conhecidas como “minor crops”, o que torna o combate às pragas muitas vezes uma atividade ilegal. No mundo todo, os registros dos agrotóxicos são feitos por pragas. Assim, um determinado inseticida pode combater uma espécie invasora onde quer que ela esteja. No Brasil, no entanto, o registro precisa ser feito por cultura, ou seja, o agricultor só poderá combater o inseto se ele estiver em uma cultura registrada para o produto. Se o inseto migra para uma lavoura vizinha, a 50 metros de distância, e passa a atacar uma outra cultura não registrada, o combate torna-se irregular. 

Um exemplo prático vem da região Sul do Brasil, onde existem milhares de agricultores que cultivam frutas como ameixa, citrus, maçã e pêssegos, muitas vezes numa mesma propriedade ou próximas entre si. O dimetoato e o methidathion são inseticidas do grupo químico dos organofosforados, autorizados para o controle de pragas em citrus e maçãs. “Mas se um desses inseticidas for empregado para o controle de uma praga em ameixa ou no pessegueiro, o produtor estará na ilegalidade, mesmo que a quantidade de resíduo detectada nos frutos não apresente risco à saúde. Trata-se de um problema regulatório que precisa ser resolvido”, afirma Botton.

O aumento da incidência de moscas-das-frutas no País pode estar relacionada à retirada de defensivos comprovadamente eficientes do mercado. Além de mais caros, os novos produtos não apresentam a mesma eficácia. O banimento de produtos sem substitutos já se mostrou um problema para o Brasil em outras ocasiões. O caso mais recente é emblemático. Proibido em 2013, o inseticida endosulfan era a principal arma no combate à broca-do-café, praga que ataca os cafezais brasileiros desde o início do século XX. Sem um controle efetivo, os invasores se multiplicaram rapidamente e passaram a causar prejuízos aos produtores. No início de 2015, menos de dois anos após a proibição, o Ministério da Agricultura declarou estado de emergência fitossanitária nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo, principais polos de produção de café do País, devido ao “risco de iminente” de infestação das lavouras cafeeiras pela broca.

Assim como no caso do café, a retirada dos inseticidas organofosforados do mercado brasileiro pode trazer grandes dificuldades no combate à mosca-da-carambola. “A retirada é preocupante em termos de erradicação, pois esses são atualmente os produtos com maior potencial contra os insetos”, afirma Cristiane de Jesus Barros, da Embrapa Amapá. De acordo com a pesquisadora, outros produtos têm sido testados, porém, sem a mesma eficácia. A guerra do Brasil contra as moscas continua. O problema, agora, é que teremos cada vez menos armas para nos defender.

Estudo aponta importância da diversidade de polinizadores na produção agrícola

A melhoria da produtividade das culturas por meio da promoção da biodiversidade dos polinizadores é o tema abordado por artigo publicado pela Science, uma das revistas científicas mais conceituadas do mundo, do qual a pesquisadora Sidia Witter, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), é um dos coautores. O trabalho foi coordenado pelo pesquisador argentino Lucas Garibaldi, com participação de 35 cientistas de 18 países, incluindo 11 instituições brasileiras.

O estudo investigou se a densidade e riqueza de polinizadores poderiam melhorar os rendimentos de 344 lavouras de 33 sistemas de culturas, em pequenas e grandes propriedades da África, Ásia e América Latina, por um período de cinco anos. No Rio Grande do Sul, a cultura estudada foi a canola, no município de Guarani das Missões.

Os pesquisadores descobriram que o efeito dos polinizadores na produtividade depende muito do tamanho do campo e da densidade e diversidade desses polinizadores. “Em campos agrícolas pequenos, o ganho de produtividade depende da quantidade de polinizadores. Em áreas acima de dois hectares, tais benefícios só foram detectados quando a diversidade de polinizadores era elevada”, explica Sidia. O estudo mostra que não adianta apenas aumentar a quantidade de abelhas nas lavouras ou pomares dependentes de polinização: os agricultores também precisam manter e conservar diferentes espécies de abelhas e outros polinizadores nas suas propriedades para obter um incremento na produtividade.

De acordo com a pesquisadora da Fepagro, outros estudos também apontam que as paisagens homogêneas, resultantes de modificações no uso do solo em áreas de agricultura intensiva, provocam alterações na abundância e riqueza de polinizadores, reduzindo suas populações. “A diversidade e abundância de polinizadores em uma propriedade rural são fortemente influenciadas, especialmente, por dois fatores: o manejo da paisagem circundante às culturas agrícolas e o modo como são utilizados os agrotóxicos”, destaca.

O artigo conclui que essa tendência pode ser invertida com adoção de medidas que possibilitem condições mais amigáveis à sobrevivência dos polinizadores em áreas agrícolas, como manter ou cultivar uma diversidade de plantas no entorno das lavouras, beira de estradas e outros locais na propriedade rural, além de conservar ou restaurar áreas de florestas adjacentes às culturas. “As plantas dessas áreas fornecerão recursos para a alimentação dos polinizadores ao longo do ano, locais para repouso, reprodução e para construção dos ninhos”, explica Sidia. Outra medida sugerida é o uso consciente de pesticidas.

O estudo é integrado ao Projeto Polinizadores do Brasil, do Ministério do Meio Ambiente, e foi financiado pelo CNPq e o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Entre as instituições brasileiras participantes da pesquisa, além da Fepagro, constam: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Embrapa, Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema). 

Abelhas e agricultura – Mais informações sobre boas práticas para manutenção de polinizadores em áreas agrícolas podem ser obtidas no livro As abelhas e a Agricultura, elaborado por Sidia junto com os pesquisadores Bruno Lisboa (Fepagro), Vera Lucia Imperatriz-Fonseca (USP), Patrícia Nunes-Silva (PUCRS) e Betina Blochtein (PUCRS). 

Mapa negocia com a China novas regras para facilitar exportações de suco de laranja

Maior produtor e exportador mundial de suco de laranja, o Brasil quer aumentar a participação do produto no mercado chinês. No ano passado, a China representou 3% das exportações brasileiras de suco de laranja, o que demonstra haver espaço para expandir as vendas. Por isso, a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) intensificou as ações para facilitar os embarques do produto para aquele país.

Uma das principais negociações do Mapa com as autoridades chinesas era a revisão de limites microbiológicos para presença de bolores e leveduras no suco de laranja, iniciada em setembro de 2014. Elas se intensificaram ao longo do ano passado e resultaram na adoção de padrões utilizados pela maioria dos países importadores. Novos limites microbiológicos, anunciados pela China em janeiro passado, entrarão em vigor em novembro deste ano. 

Os novos padrões chineses substituem a regra “GB 17325-2005”. No documento “GB 17325-2015”, os níveis para bolores e leveduras foram modificados para até 100 CFU/ml, atendendo a demanda do Brasil. Anteriormente, o limite era abaixo de 20 CFU/ml. 

Segundo a SRI, as exigências sanitárias mais restritivas da China, associadas a barreiras tarifárias, tiveram impacto negativo nas exportações do produto brasileiro. A participação do Brasil nas importações chinesas de suco de laranja caiu de 80% em 2011 para 65% no ano passado. 

A China é o quarto maior mercado para o suco de laranja brasileiro, atrás da União Europeia, Estados Unidos e Japão. As exportações brasileiras totalizaram US$ 1,87 bilhão em 2015. Embora em valor tenha havido queda de 5% em relação a 2014, o volume exportado aumentou 4,1%, alcançando 2 milhões de toneladas. 

Para a China, o desempenho das exportações foi desfavorável, mostram os números da SRI. No mesmo período, as vendas brasileiras caíram 25,3% em valor (US$ 55,9 milhões) e 15,6% em volume (31 mil toneladas).

Barreiras tarifárias

Mesmo com a superação da questão sanitária, ainda restam barreiras tarifárias que prejudicam a competitividade do produto brasileiro no mercado chinês. Hoje, ressalta a SRI, é aplicada uma alíquota diferenciada, entre 7,5% e 30%, conforme a temperatura do suco (o produto congelado abaixo de -18ºC paga a tarifa menor).

De acordo com o setor, essa barreira tarifária desestimula a adoção do sistema a granel, a temperaturas por volta de -10ºC, utilizado para exportar o produto a EUA, Europa e outros países. Esse sistema, hoje tributado na China com a alíquota máxima de 30%, é bem mais competitivo do que o transporte em tambores, utilizado para abastecer o mercado chinês atualmente.

Para solucionar a barreira tarifária, o Mapa colocou como prioridade, na Câmara de Comércio Exterior (Camex), o lançamento de negociações de acordo de preferências tarifárias com a China. Pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), é permitida a celebração de acordos de alcance parcial entre países em desenvolvimento, como China, Brasil e outros países do Mercosul.

Fonte: Grupo Cultivar

Trabalhador de lavoura de laranja remunerado por produção receberá hora extra com adicional

A Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho negou provimento a embargos de empresa agrícola contra decisão que a condenou ao pagamento da hora extra cheia, acrescida do adicional sobrejornada, a um trabalhador rural que recebia salário por produção.

Ao entrar com o pedido de embargos, a empresa apontou contrariedade a Orientação Jurisprudencia1 235 da SDI-1. O verbete estabelece que o empregado remunerado por produção, no caso de sobrejornada, tem o direito de receber apenas o adicional de horas extras, mas não a hora em si, excetuando apenas os cortadores de cana, aos quais é devido o pagamento das horas extraordinárias acrescidas do respectivo adicional (50% em dias normais e 100% nos feriados). Segundo a empresa, o contratado trabalhava na colheita de laranja, e não na lavoura de cana de açúcar, não se enquadrando, assim, na exceção prevista na OJ 235.

O ministro Hugo Carlos Scheuermann, relator do processo na SDI-1, explicou que não houve contrariedade à OJ 235, mas sua aplicação analógica, tendo em vista que não existem diferenças substanciais entre o trabalho na lavoura de cana de açúcar e o na lavoura de laranja. "O trabalho em colheita de laranja é serviço igualmente penoso àquele realizado por trabalhadores do corte de cana de açúcar", observou Scheuermann, citando precedentes de Turmas e da própria SDI-1 no mesmo sentido.

Chuvas prejudicam cultivo de maçã em Fraiburgo (SC)

Foto: Arquivo Ibraf
As grandes quantidades de chuvas nos últimos meses afetaram diretamente o cultivo de maçã na região Sul do país. Como consequência do grande volume de chuva registrado, ocorreu a redução de oferta do produto, resultando no aumento do preço. A situação foi divulgada no dia 26 de janeiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O estudo analisou os preços de comercialização no atacado em dezembro do ano passado.

Na cidade de Caçador, o volume de chuva registrado nos meses de novembro e dezembro totalizou 421,3 mm, segundo informações da meteorologista da Climatempo, Bianca Lobo. A cidade de Fraiburgo, importante produtora de maça sentiu os reflexos desta grande quantidade de chuva e registrou prejuízos durante a fase de cultivo da cultura.

A região de Santa Catarina é forte produtora de maçãs, por isso o impacto foi tão grande. Albino Bongiolo Neto, agrônomo da Fischer Agroindústria, conta que quando ocorre o excesso de chuvas, é preciso redobrar o cuidado na plantação, já que a chance de ser prejudicada por doenças é maior. “Esse ano choveu exageradamente, muito acima da média. Se não cuidar da plantação temos problema com a qualidade da fruta", diz.

Albino também ressalta que, além da chuva, a falta de frio causada pelo El Niño no último inverno acabou influenciando na quantidade da produção. A combinação de temperaturas altas e chuvas durante a florada também diminuiu o trabalho das abelhas durante a polinização.

Esse mesmo cenário foi observado por Pierre Nicolas Pérès, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM). Ele explica que as condições durante a florada foram ruins, o que justifica a safra menor do que o esperado. “Mesmo sem o frio, o que mais afetou foi uma geada de outubro durante a florada, parte destas flores foram queimadas. A chuva complicou o quadro que já não estava bom", conta.

Para o cultivo ideal da maçã, o clima deve estar equilibrado. Inverno frio, primavera fresca, verão quente (sem passar dos 30ºC) e chuvas regulares. A previsão é que o preço da fruta continue alto neste primeiro trimestre de 2016, devido à expectativa de precipitações.


Colheita da safra brasileira avança acima da média histórica

Com meta de 100 milhões de toneladas de soja no horizonte, a colheita da safra 2015/16 avança acima da média histórica. De acordo com levantamento da Expedição Safra Gazeta do Povo, 13% dos 32,5 milhões de hectares dedicados à oleaginosa já foram colhidos. Na mesma época do ano passado, o índice era de 11%.

Nos dois principais estados produtores do país, Paraná e Mato Grosso, o trabalho de campo também está adiantado. No Paraná, a colheita está próxima dos 25%. No Mato Grosso, as máquinas já retiraram 20% da área cultivada.

No início do ano, em função das intempéries do fenômeno climático, as máquinas encontraram dificuldades. No Paraná, os produtores ficaram semanas consecutivas sem poder retirar o grão das lavouras. Mas, as incertezas climáticas deram lugar ao céu azul e tampo seco, na maioria dos estados.

Expedição Safra

Desde a segunda quinzena de janeiro, a Expedição Safra Gazeta do Povo está na estrada para verificar as condições das lavouras brasileiras. No primeiro roteiro, a equipe de técnicos e jornalistas percorreu a região Centro-Oeste. As análises de campo e as coletas de informações junto a empresas, cooperativas e produtores verificaram que o Mato Grosso do Sul contabiliza estragos causados pelo excesso de umidade, enquanto o Mato Grosso registra forte estiagem que castigou o estado no final de 2015.

A partir desta sexta-feira (12), a segunda equipe do projeto, que completa 10 anos nesta temporada, pega a estrada para cumprir o roteiro pelas lavouras de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. O objetivo é verificar se o excesso de chuva no plantio nestes três estados comprometeu a produtividade das lavouras de soja.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Sistema sustentável de produção de tomate aumenta renda de produtores

Foto: Carlos Dias - Divulgação Embrapa
Uma tecnologia para produção de tomate desenvolvida pela Embrapa está mudando para melhor a vida de produtores no estado do Rio de Janeiro. O Sistema de Produção de Tomate em Cultivo Sustentável (Tomatec) impactou a renda desses agricultores na lavoura do tomate com ganhos acima de 200% em relação ao custo de produção, graças à parceria com a rede de supermercados carioca Zona Sul. "Essa união com o Zona Sul transformou o tomate na principal cultura econômica desses produtores. Eles recebem mais pelo Tomatec do que por qualquer outra cultura de rotação, como alface, brócolis ou ervilha", revela o pesquisador da Embrapa Solos (RJ) José Ronaldo Macedo.

Em 2006, o produtor rural Sílvio Vieira Silva, de São José de Ubá (RJ), perguntou para José Ronaldo porque mesmo realizando todas as práticas conservacionistas preconizadas pela Empresa ainda não conseguia receber um melhor pagamento pelos tomates que comercializava. "Aquela pergunta ficou um bom tempo na minha cabeça", conta o pesquisador. "Depois de pensar bastante, concluí que para esse tomate ser valorizado precisávamos de um diferencial, como, por exemplo, um fruto que chegasse sem resíduo de agrotóxico à mesa do consumidor". 

Daquela pergunta nasceu o Tomatec. Mas para contar essa história temos que voltar ainda mais no tempo. A Embrapa Solos chegou em 1995 a Paty do Alferes, município fluminense no qual o tomate era o principal cultivo. "Iniciamos um trabalho de manejo do solo em microbacias com nossa equipe de pedologia (estudo do solo em seu ambiente natural) e de conservação do solo nesta região, que também incluía Miguel Pereira e Vassouras", recorda José Ronaldo.

Quando chegou à área, a equipe da Embrapa encontrou um cenário complicado. O cultivo do tomate na região não utilizava práticas de conservação do solo, como consequência havia erosão, poluição dos mananciais, queimadas e uso excessivo de agrotóxico. Vale lembrar que, ao lado das culturas da batata, mamão e morango, a do tomate é uma das que apresenta maior resíduo de agrotóxico nos frutos. "Não era possível deixar de plantar tomate, então resolvemos mudar o sistema de produção", recorda José Ronaldo.

Essas mudanças compreendiam alguns dos pilares do que viria a ser o Tomatec: plantio direto, rotação de culturas e plantio em nível, fertirrigação por gotejamento, manejo integrado de pragas (MIP) e tutoramento vertical da planta com fitilho. Outra prática, fundamental para livrar os frutos dos agrotóxicos, a proteção física do fruto pelo ensacamento das pencas, foi adotada em um segundo momento.

O ensacamento da penca do tomate complementou as ações do MIP e teve a dupla função de proteger o fruto dos ataques das brocas e dos resíduos de agrotóxicos, evitando o depósito da calda na casca do tomate. Essas práticas permitiram que o produtor conseguisse um tomate isento de agrotóxico, pois acontece a redução do uso do mesmo devido ao MIP e à proteção física do saco.

A fertirrigação proporciona maior eficiência no uso da água e de adubos mais solúveis, reduzindo, assim, os fortes níveis de adubação registrados nas lavouras de tomate, enquanto o plantio direto diminui a erosão que pode surgir com o preparo inadequado do solo.

Ao fim do processo da adoção do Tomatec, o fruto surge como um tomate limpo, resistente e de excelente aparência, com selo de qualidade e rastreabilidade, o que proporciona ao produtor receber melhor preço pelo seu produto. 

Análises feitas na Fiocruz, no Rio de Janeiro, atestaram que o fruto sai da lavoura sem resíduos de agrotóxicos, assumindo como livre de resíduos resultados analíticos obtidos quando da leitura do equipamento for menor do que o limite de quantificação, como consta do laudo da Fiocruz. 

O produtor rural de São Sebastião do Alto, Roberto Ferreira, um dos primeiro a adotar o Tomatec, atesta a importância desse aspecto. "Esse zero resíduo que o Tomatec proporciona foi o que primeiro me atraiu", conta Ferreira. 

O pesquisador da Embrapa Hortaliças (DF) Nuno Madeira aponta outros benefícios da tecnologia: "Creio que os diferenciais do Tomatec são proporcionar segurança quanto à qualidade do fruto para o consumidor e permitir o acompanhamento pleno do sistema produtivo e de seus custos para o fazendeiro".

Parceiros no Mercado

Com as primeiras lavouras com o Tomatec rendendo frutos no estado do Rio de Janeiro, por volta de 2011, a Syngenta se interessou pelo sistema de produção. "O aporte da Syngenta foi muito importante para mantermos as pesquisas", conta o cientista da Embrapa Solos.
Com essa cadeia completa faltava levar o produto à mesa do consumidor. Isso aconteceu em agosto de 2015 quando a tradicional rede de supermercados carioca Zona Sul resolveu apostar no Tomatec. "O Zona Sul compra os frutos por um preço diferenciado, nosso compromisso atual é de fornecer três toneladas por semana", diz Macedo. Dez produtores no estado do Rio de Janeiro se encarregam dessa tarefa, com uma média de três mil pés plantados por mês em Nova Friburgo, São Sebastião do Alto, Tanguá, Teresópolis e Trajano de Moraes. Um destes produtores é Carlos Dantas, de Nova Friburgo. "O preço fixo que o Zona Sul nos oferece é um grande estímulo para continuar com o Tomatec", revela Carlos.

E o sistema produtivo utilizado no Tomatec pode ser adaptado a outras culturas como, por exemplo, pimentão, berinjela e jiló, com possibilidade de alcançar outras hortaliças e frutos. "Vejo como uma especialização, um passo a mais, nas Boas Práticas Agrícolas (BPA), com a oportunidade de maior remuneração pelo reconhecimento do produto de melhor qualidade", comenta o pesquisador Nuno Madeira.

O que vem por aí

Como todo sistema em desenvolvimento, o Tomatec ainda tem espaço para aprimoramento. "Talvez, algum ajuste regional para os níveis de danos no MIP", diz Madeira. "Outra coisa que por vezes não acontece é a aplicação do cultivo em plantio direto. Muitas vezes, os produtores se sensibilizam pelo processo, mas já iniciam a partir da fase seguinte, fazendo preparo de solo convencional. E, certamente, os benefícios do plantio direto estão mais do que consagrados", reitera. 

Este ano espera-se que o Tomatec se consolide no Rio de Janeiro e se expanda para os estados de Espírito Santo e São Paulo.

Carlos Dias ((MTb 20.395/RJ)) 
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Sistema ajuda a monitorar a doença mais temida da banana

Foto: Diva Goncalves - Divulgação Embrapa
Um método computacional associado a sistemas de informações detecta épocas e locais com condições favoráveis à ocorrência da sigatoka-negra em bananais de forma mais fácil, segura, rápida e abrangente, facilitando o controle da doença, com geração de ganhos econômicos e redução de impactos ambientais para o produtor. O método permite conhecer os locais, em escala de propriedade, com maior probabilidade da ocorrência da doença, relacionada às condições climáticas e a variabilidade espacial da posição das plantas na região produtora.

O usuário do sistema, que pode ser um consultor especializado ou o próprio produtor, receberá do programa um mapa de prescrições de aplicações de fungicida, o qual indica o volume da aplicação, sua localização e as melhores épocas para a ação. O modelo minimiza uso da energia e economiza os produtos aplicados, o que além de benefícios financeiros reduz consideravelmente os impactos ambientais, segundo o responsável pelo desenvolvimento do sistema, o pesquisador Paulo Cruvinel, da Embrapa Instrumentação (SP).

A sigatoka-negra é considerada a doença mais severa e destrutiva em todas as regiões produtoras de banana do mundo. Métodos tradicionais de controle da doença são subjetivos, mais demorados, difíceis de manejar e pontuais, não permitindo em geral uma abordagem sobre toda uma área cultivada. 

O modelo desenvolvido pela Embrapa e parceiros foi licenciado para a empresa R3ZIS S/A, do Rio de Janeiro, no começo do mês de outubro. A partir de agora, a empresa poderá montar e adequar sistemas, baseados no modelo computacional transferido, para subsidiar os produtores agrícolas ou administradores de áreas de bananais na previsão de períodos considerados favoráveis à ocorrência da doença para a promoção de processos de controle com maior eficiência e previsibilidade.

"A transferência de know-how em modelo de risco para tratativas da sigatoka-negra em escala de propriedade poderá auxiliar o setor produtivo da banana, e ser diferencial para o Brasil, assim como também para os produtores africanos, entre outros", avalia o diretor da R3ZIS Paulo Manoel Lenz César Protásio.

De acordo com Cruvinel, há uma expressiva demanda por tecnologias e conhecimentos que possam minimizar os efeitos provocados pelas doenças fúngicas que se encontram presentes em vários países produtores de bananas. "O método poderá servir como subsídio para implementação de sistemas de alertas, programas de controle da doença, de forma a otimizar o uso de energia, principalmente reduzindo a utilização de fungicidas químicos, o que reflete em ganho econômico e ambiental", lembra o pesquisador.

Ele também lembra que as iniciativas de controle da doença devem estar associadas com planos de contingências que devem ser colocados em execução pelo produtor com base no estágio de desenvolvimento da sigatoka-negra e do processo de monitoramento. 

Embora a doença do mal-de-sigatoka acarrete danos qualitativos e quantitativos, podendo chegar a perdas de até 100% na produção de cultivares como Prata, Maçã, d'Angola e as do subgrupo Cavendish, o pesquisador explica que sistemas de controle tradicionais têm sido realizados por meio de pulverizações alternadas de fungicidas sistêmicos, os quais são determinados em acompanhamentos semanais. 

O pesquisador considera que um sistema de previsão bioclimático é uma ferramenta de grande valor para se conhecer a severidade da doença em diferentes áreas de produção ou estações do ano, de forma a viabilizar um modelo de decisão que indique o momento correto da aplicação de fungicidas de modo localizado e em taxa variada, o intervalo de aplicação e o grupo químico dos fungicidas mais apropriados para cada época do ano.

Sigatoka-negra

A sigatoka-negra é causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis e é considerada por estudiosos uma das mais importantes doenças da bananeira no mundo, sendo a que mais preocupa o setor bananeiro brasileiro. Os sintomas causados pela evolução das lesões produzidas pela igatoka-negra se assemelham aos decorrentes do ataque da sigatoka-amarela, também ocorrendo a infecção nas folhas mais novas. 

Os primeiros sintomas aparecem na face inferior da folha como estrias de cor marrom, evoluindo para estrias negras. Os reflexos da doença são sentidos pela rápida destruição da área foliar, reduzindo-se a capacidade fotossintética da planta e, consequentemente, sua capacidade produtiva.

No Brasil, desde a sua constatação em 1998, a doença tem gerado apreensão, tanto pela sua severidade como também pela importância da cultura para o País.

Metodologia

O modelo computacional desenvolvido integra diferentes ferramentas e técnicas das áreas de modelagem, tecnologia de informação, geoprocessamento, sistemas de posicionamento global e variações climáticas, sendo as mais consideradas mais a precipitação acumulada, temperaturas máxima e mínima, umidade relativa, duração do período de molhamento foliar, índice de reflectância e estágio de evolução da doença. 

Para desenvolver o modelo, foram utilizadas funções polinomiais para representar as variáveis que compõem o risco de aparecimento da doença. "As funções nada mais são que um tipo particular de relação que possuem uma propriedade específica. Um polinômio é uma expressão algébrica formada por monômios e operadores aritméticos. O monômio é estruturado por números (coeficientes) e variáveis (parte literal) em um produto e os operadores aritméticos podem ser representados por soma, subtração, divisão, multiplicação, ou mesmo uma potenciação", explica Cruvinel.

De acordo com ele, logo a vulnerabilidade das plantas decorre de fatores intrínsecos da própria planta e de variáveis exógenas, ou seja, causas externas. "A partir da organização dessas variáveis é estabelecido uma Figura de Risco com a integração das variáveis e análise das probabilidades de ocorrências do risco da sigatoka-negra em três níveis – baixo, médio e alto", diz. 
O risco integrado é fruto da relação das probabilidades sobre as faixas de valores das variáveis consideradas e que existe uma correlação entre as condições dessas variáveis e o desenvolvimento da sigatoka-negra. Para ele, o estabelecimento da figura de risco integrado colabora com mais um passo para o auxílio ao processo de tomada de decisão na gestão de risco de culturas agrícolas. "Os modelos estabelecidos poderão ser usados em programas de controle da sigatoka-negra, de forma a minimizar impactos ambientais e viabilizar ganhos econômicos para o produtor", avalia Cruvinel.

Cadeia

No País, a cultura da banana está presente na maioria dos estados brasileiros, sendo que a cadeia produtiva é composta principalmente por pequenos produtores. As principais regiões produtoras brasileiras são Vale do Ribeira (SP), norte de Minas Gerais, norte de Santa Catarina e Juazeiro do Norte (BA), Petrolina (PE). Segundo os dados da Food and Agriculture Organization (FAO), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de banana, com 6,4 milhões de toneladas, atrás do Equador (7,5 milhões) e da Índia (16 milhões). Mesmo com diferenças regionais, a banana brasileira tem importância e relevância na pauta de exportação de produtos agrícolas do Brasil.

A produtividade brasileira média ainda é baixa, apenas 12,5 toneladas por hectare, diante do desempenho dos outros países que lideram o mercado global, como a Costa Rica, com uma produtividade de 46,6 t/ha. Segundo os dados da FAO, a cultura cobre 508 mil hectares do território brasileiro, enquanto a Costa Rica, com seus 45 mil hectares, tem o triplo da produtividade brasileira e uma produção três vezes menor. 

A gestão de riscos permite abordar o marco da segurança alimentar e da segurança do alimento, incluindo a redução de riscos climáticos, riscos de produção, riscos econômicos, riscos ambientais e outros. A R3ZIS tem atuado no monitoramento avaliativo de culturas agrícolas por meio de projetos que envolvem planejamento, monitoramento e avaliação em relação a conceitos e práticas de riscos agrícolas. 

Mais informações: Unesp e Scielo.


Fonte: Embrapa Instrumentação 
Joana Silva (MTb 19.554/SP) 
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Japão quer investir em projetos agrícolas no Matopiba

Brasil e Japão vão assinar no final deste mês um memorando de cooperação para agricultura e alimentação com base em estudos e projetos para viabilizar investimentos japoneses na região do Matopiba. A área está situada nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e vem se destacando na produção de grãos, como soja, milho, algodão e arroz.

A assinatura ocorrerá durante encontro em Palmas (TO), no próximo dia 29, e contará com a presença da ministra Kátia Abreu (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e do vice-ministro de Assuntos Internacionais do Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca do Japão, Hiromichi Matsushima.

O memorando será assinado durante o Seminário Brasil – Japão: intercâmbio econômico e comercial em agricultura e alimentos. Trata-se de um evento que apresentará para executivos das empresas japonesas com atuação no Brasil e em fundos de investimento japoneses as oportunidades oferecidas pelo agronegócio brasileiro, com destaque para o Matopiba.
Na oportunidade, também será anunciada a criação da Frente Municipalista dos Prefeitos da região do Matopiba.

Reunião bilateral
Paralelamente ao seminário, ainda no dia 29, será realizada uma reunião bilateral sobre temas sanitários e fitossanitários. No dia 1º de março (terça-feira), os japoneses vão fazer uma visita técnica a empreendimentos do agronegócio e conhecer as potencialidades da região.

O evento contará com a presença dos governadores do Maranhão, Flávio Dino, de Tocantins, Marcelo Miranda, do Piauí, Wellinton Dias, e da Bahia, Rui Costa. Os presidentes da Embrapa, Maurício Lopes, e da Conab, Lineu Olímpio de Souza, além dos representantes da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e do Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC), também estarão no encontro.

Safra 2015/16 da laranja é reestimada em 289,92 milhões de caixas

foto: Freepik
A terceira reestimativa da safra de laranja 2015/16 do parque citrícola de São Paulo e Minas Gerais feita pelo Fundecitrus indica uma produção de 289,92 milhões de caixas, de 40,8 kg cada. Este valor representa um aumento de 1,3% em relação à reestimativa de dezembro e 3,8% da estimativa inicial de maio/2015.

Um dos motivos para o acréscimo foi o volume de chuva acima da média histórica que colaborou com aumento do tamanho e peso dos frutos e, consequentemente, com a redução da quantidade de laranjas necessária para atingir o peso de 40,8 kg por caixa. O tamanho médio reestimado em fevereiro, considerando todas as variedades, é de 234 frutos/caixa, três a menos do que em dezembro. Outro fator que contribuiu para diminuir a quantidade de laranjas necessárias para compor uma caixa foi o menor número de frutos por árvore, pois a laranjeira compensa a menor quantidade de frutos devido ao maior desenvolvimento deles.

Nas variedades Hamlin, Westin e Rubi, o tamanho dos frutos tiveram pequeno aumento, necessitando 275 frutos/caixa, um a menos do que a reestimativa de dezembro. As outras laranjas precoces foram reestimadas em 235 frutos/caixa (dois frutos a menos).

A Pera Rio não sofreu alteração e continua com 232 frutos/caixa. Valência e Valência Folha Murcha ficaram com 212 frutos/caixa (oito a menos). Para a Natal a reestimativa é de 223 frutos/caixa (dois a menos).

Os dados desta reestimativa apontam que o maior aumento no tamanho dos frutos ocorreu no grupo de variedades tardias como Valência e Valência Folha Murcha. Este fato foi decorrente das chuvas mais intensas em novembro que coincidiram com o pico de colheita destas variedades.

A taxa média de queda, considerando todas as variedades, foi reestimada em 17,62%, um pouco abaixo dos 17,65% de dezembro/2015. A queda das variedades Hamlin, Westin e Rubi continua em 12,12%, e das demais precoces continua em 11,91%. A Pera Rio caiu para 15,51%, a anterior foi de 15,73%. Já Valência e Valência Folha Murcha se mantiveram em 23% e a Natal ficou em 19,71%

Até o final de janeiro, estima-se que 92,1% da safra tenha sido colhida, sendo 99,3% para as variedades Hamlin, Westin e Rubi; outras precoces 98,2%; Pera Rio 93,5%; Valência e Valência Folha Murcha 87,9% e, Natal 88,3%.

As reestimativas de safra são realizadas a partir do monitoramento de talhões, que consiste em visitas mensais dos técnicos do Fundecitrus em pomares de todo o parque citrícola para coleta de informações sobre tamanho e queda de frutos.

O trabalho é feito em parceria com a Markestrat, Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP) e Departamento de Estatística da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp de Jaboticabal (FCAV/Unesp). O fechamento da safra será divulgado em 11 de abril. 

Fonte: Fundecitrus

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Exportações do agronegócio cresceram 8,7% em volume em janeiro deste ano

O volume das exportações brasileiras do agronegócio aumentou 8,7% em janeiro deste ano, em comparação com o mesmo mês de 2015. O número consta da balança comercial dos primeiros 31 dias de 2016, divulgada na sexta-feira (05.02) pela Secretária de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em valores, o desempenho do comércio exterior do setor teve retração.

Segundo a SRI, as exportações de produtos agropecuários somaram US$ 4,98 bilhões em janeiro deste ano. O valor é 11,7% inferior aos US$ 5,64 bilhões alcançados no mesmo mês de 2015. “A queda ocorreu mesmo com volume recorde exportado de inúmeros itens”, ressaltou a secretária de Relações Internacionais, Tatiana Palermo. “O decréscimo no valor embarcado ocorreu, sobretudo, por causa da diminuição dos preços médios de exportação dos produtos do setor”.

Ainda de acordo com os números da SRI, as importações também diminuíram, caindo de US$ 1,24 bilhão em janeiro de 2015 para US$ 913,09 milhões no mês passado. É o menor valor importado desde 2010 para os meses de janeiro, conforme a secretaria.

Os dados divulgados pelo Mapa mostram também que o saldo comercial da balança do agronegócio foi de US$ 4,07 bilhões em janeiro deste ano. Esse resultado foi US$ 332,20 milhões inferior ao registrado no mesmo mês de 2015.

No mês passado, os cinco primeiros setores exportadores do agronegócio em valores foram carnes (18,6% do total embarcado), produtos florestais (16,2%), cereais, farinhas e preparações (16%), complexo soja (12,5%) e complexo sucroalcooleiro (9,8%). Essas cinco cadeias produtivas, destaca a SRI, foram responsáveis por 73,1% do valor total exportado em janeiro de 2016.

Em volume exportado, as carnes de frango, bovina e suína tiveram, respectivamente, crescimento de 14,8%, 10% e 65,3% em janeiro deste ano. Os mercados que mais contribuíram para o crescimento da carne suína foram Hong Kong, China, Cingapura e Argentina.

Recordes

O mês passado registrou ainda quantidade recorde de exportação de celulose para janeiro. Os embarques totalizaram 1 milhão de toneladas.

O milho foi outro produto que registrou recorde em volume para o mês de janeiro, com 4,46 milhões de toneladas. O Brasil também teve volume recorde de farelo de soja embarcado no mês passado, com 1,18 milhão de toneladas.

Entre os países, o maior importador de produtos do agronegócio brasileiro em janeiro passado foi a China. As exportações para o país asiático subiram de US$ 377,19 milhões em igual mês de 2015 para US$ 523,84% milhões em janeiro de 2016 (+38,9%). A participação do país subiu para 10,5% no mês. Outros países também tiveram expansão: França (+63,6%), Egito (+54%), Japão (+52,3%), Argentina (+7,2%) e Tailândia (+1,6%).

RS: colheita da uva tem início na região de Pelotas

Nos anos anteriores, a abertura da colheita da uva na região de Pelotas ocorreu uma semana antes do início da safra de 2016, realizada nesta quinta-feira (4), na propriedade da Família Ribes, 7º distrito de Pelotas. A menor incidência de dias frios e a ocorrência de geada tardia no ano passado afetaram a produção, o que, além de atrasar o amadurecimento dos frutos, pode representar perdas na colheita. Mas, mesmo com as condições adversas e com algumas plantas ainda novas, a safra deve ser satisfatória e girar em torno de 650 toneladas. "Alguns cachos ainda não estão totalmente maduros, então haverá oferta de uvas depois de outras regiões produtoras. A expectativa é que o preço acabe compensando", explica o pesquisador da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) Jair Nacthigal.

Desde 2006, a produção de uvas está sendo incentivada na região para estimular a diversificação da fruticultura, que tem em Pelotas o pêssego como principal atividade. Segundo dados do Censo Frutícola 2014, produzido pela Emater, o município abriga cerca de 40 hectares de uvas, divididos em 125 produtores. Destes, 12 hectares são mais especializados, com foco no consumo in natura. A produtividade média das variedades para mesa deve ficar em torno de 30 toneladas por hectare. Na regional de Pelotas, que engloba 22 municípios, a uva ocupa pouco menos de 250 hectares, boa parte voltada à indústria em função das grandes vinícolas, principalmente no município de Pinheiro Machado.

Abertura oficial

Esta foi a quarta vez que a abertura da colheita ocorreu na propriedade da família Ribes, que possui pouco mais de três hectares de parreirais. Este ano, seu Renato Ribes deve colher em torno de 50 toneladas, mas o produtor espera atingir 120 toneladas no próximo ano, já que algumas plantas ainda são novas e não estão no auge de produção. Para ele, a uva, vendida a cerca de três reais o quilo, é uma das principais fontes de renda, além do pêssego. A comercialização é feita para os mercados locais. "Foi um ano chuvoso, teve geada, mas a expectativa é que vamos ter um retorno bom", afirma o produtor. A capacidade de recuperação das videiras é um dos fatores que faz com que os técnicos incentivem a cultura para a diversificação. "Com os problemas do ano passado, a grande maioria das outras frutas teria a colheita totalmente comprometida", completa Nachtigal.

Participaram da 6ª abertura da colheita cerca de 250 pessoas, como agricultores, técnicos agrícolas e representantes de entidades, tanto de Pelotas como dos municípios de Arroio do Padre, Rio Grande e Amaral Ferrador. O chefe do executivo pelotense, Eduardo Leite, também participou e abriu oficialmente a colheita junto da família Ribes. "Estamos aqui para prestigiar e reconhecer os esforços destes produtores que fazem avançar essa cultura que é tão importante para a geração de renda das famílias. Quem se arrisca viver sua vida no campo precisa ter esse reconhecimento", disse.

Na abertura da colheita, houve ainda um concurso que premiou a melhor caixa, o cacho mais característico da cultivar e o cacho de maior peso. E um momento de homenagens a algumas pessoas responsáveis por incentivar a retomada da cultura no município – grande produtor nas décadas de 1920 e 1930 –, como o agricultor Jordão Camelato e o técnico da Emater Geraldo B. Torchelsen, além da própria família anfitriã. A realização do evento ficou a cargo da Embrapa, Emater/RS-AScar, UFPel, Cafsul e Sicredi.

Tecnologia

De Bento Gonçalves, técnicos da Embrapa Uva e Vinho promoveram degustação de sucos e apresentação das variedades BRS Magna e BRS Victória, recentemente lançadas pela pesquisa. Estes materiais já estão em testes para adaptação às condições climáticas do município e devem estimular ainda mais a produção local.

Fonte: Embrapa

Helicoverpa armigera: “Brasil não pode viver só de agricultura orgânica”

Um dos maiores desafios vividos pelo setor produtivo rural brasileiro é a falta de soluções para a proteção dos cultivos. A chegada da Helicoverpa armigera, há três anos, escancarou os sérios problemas estruturais do setor público que deveria amparar os agricultores afetados pelas diversas pragas e doenças que assolam um país de clima tropical.

Os problemas brasileiros vão desde a morosidade na avaliação e registro de produtos de defesa vegetal, passam pelo famigerado uso político dos órgãos que deveriam ser técnicos e acabam nos entraves ideológicos que fazem com que uma solução demore até cinco anos para chegar ao campo. Ouvida com exclusividade pelo Portal Agrolink, a Doutora em entomologia Cecilia Czepak analisa as agruras que afetam o setor nesta última reportagem da série “Helicoverpa armigera”.

“A obtenção de registros é extremamente morosa no país. Os responsáveis precisam ouvir as classes produtivas, pois não é possível manter os maiores interessados fora desse sistema. É necessário que eles saibam o que os produtores passam no campo, para saberem dosar melhor as regras no momento de liberar esse ou aquele produto, sem é claro, comprometer o consumidor e o meio ambiente”, aponta. 

A especialista não considera ultrapassado o sistema brasileiro que divide a tarifa entre Anvisa, Mapa e Ibama: “Cada um cumpre o seu papel nas áreas que lhes são atribuídas, mas alguns precisam se atualizar um pouco mais sobre os verdadeiros problemas da agricultura, e deixar de fazer um pouco esta política ‘socioambientalista’”. 

“O Brasil não pode viver só de agricultura orgânica, infelizmente. O país precisa produzir, pois a agricultura é que tem sustentado nossa economia. Produzir exige tecnologia, portanto, neste caso, os agroquímicos não podem ficar de fora. O que precisamos talvez são leis que exijam dos produtores a adoção destas tecnologias de forma discriminada e com consciência, e que venham a ser fiscalizados de forma contínua pelos órgãos competentes”, sustenta Cecilia. 

Ela aponta ainda o problema da fiscalização sobre como se está utilizando esse produto no campo: “é muitas vezes falha. Isso porque não temos uma política de manutenção dos órgãos fiscalizadores no campo, que sofrem continuamente cortes de verbas e de pessoal, tornando a fiscalização quase impossível num país com a extensão territorial do Brasil”.

“Entretanto, não seria somente essa a mudança, pois enquanto os nossos governantes continuarem a rifar os altos cargos, colocando pessoas do seu interesse partidário em detrimento ao setor e não levando em conta o grau de conhecimento técnico do responsável pela pasta, tenho dúvidas sobre qualquer mudança. Estamos a mercê de interesses muitas vezes político-partidários, e isso é uma pena”, analisa. 

“Os altos cargos do governo só poderiam ser preenchidos por pessoas da área, que tenham passado por concurso público, sem o incômodo da indicação política. Assim talvez acabariam, ou, pelo menos, diminuiriam esses desmandos no país. No mínimo não haveria cobranças de interesse exclusivamente partidário, como as que acontecem atualmente”, conclui.

Citros/Cepea: preço das laranjas segue elevado no mercado de mesa

O preço das laranjas para consumo in natura continua alto no estado de São Paulo devido à baixa oferta, principalmente de frutas de qualidade. Nesse cenário, laranjas melhores chegam a ser negociadas acima de R$ 20,00/cx de 40,8 kg, na árvore.

Na parcial desta semana (segunda a quinta-feira), a laranja pera teve média R$ 18,90/caixa, recuo de 1,1% em relação à média da semana passada. Para a lima ácida tahiti, a situação é oposta.

A colheita se concentra no primeiro trimestre, e a retração dos preços já era esperada. Na parcial da semana, a tahiti para consumo in natura teve média de R$ 9,38/cx de 27 kg, colhida, queda de 4,5% em relação à semana passada.

Fonte: Cepea/Esalq

Previsão de safra SP: boas perspectivas para grãos e resultados positivos para cana e laranja

O acompanhamento inicial da safra paulista de grãos 2015/16 para as culturas de algodão, amendoim, arroz, feijão das águas, milho e soja indica queda de 0,8% na área cultivada, atingindo 1,377 milhão de hectares, contra 1,388 milhão de hectares da safra anterior. No entanto, é esperado um aumento de 3,7% na produção (quantidade total produzida) e de 4,5% na produtividade (volume de produção dividido pelo número de hectares cultivados com o produto), quando comparadas com o final da safra 2014/15, informa a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Economia Agrícola (IEA/Apta). O levantamento, realizado entre 3 e 25 de novembro de 2015, em parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), apresenta os indicadores gerais da evolução da Agricultura Paulista.

A safra de Café Beneficiado poderá atingir 5,04 milhões de sacas de café beneficiado (302,5 mil toneladas), representando expansão de 23,4% frente à estimativa de colheita final da safra 2014/15. O expressivo incremento da quantidade a ser colhida deve-se, fundamentalmente, à recuperação da produção e da produtividade no cinturão cafeeiro de Franca, no qual se espera colheita de 1,86 milhão de sacas (85% maior que a colheita anterior) com produtividade média de 31 sc./ha. Tal avanço na expectativa de produção regional decorre das condições climáticas muito favoráveis (temperatura e precipitações), e do pegamento e desenvolvimento dos frutos. Contudo, esse cenário otimista deve ser encarado com cautela, pois o levantamento de novembro ocorre em fase muito precoce de pegamento dos frutos; momento em que são frequentes os veranicos que podem ocasionar queda de chumbinhos, afirmam José Alberto Angelo, Carlos Bueno, Celma Baptistella, Denise Caser, Felipe Pires de Camargo, Mário Olivette e Vagner Azarias Martins, pesquisadores da Secretaria de Agricultura, que atuam no IEA, responsáveis pelo artigo.

Os números do segundo levantamento da safra 2015/16 de Feijão das Águas apontam para aumento de 17% na área plantada, somando 54,1 mil hectares; 25,9% na produção (122,3 mil toneladas) e de 7,7% de produtividade em comparação com a safra anterior. Um dos fatores que podem ter contribuído para esse aumento de área na safra atual foram os preços recebidos pelos produtores, 75% maior na época de plantio (setembro), em relação ao mesmo período de 2014.

Os resultados do levantamento do Milho de Primeira Safra apontam quedas de 3,7% na área cultivada, 444,3 mil hectares; o incremento de 3,8% na produtividade, em relação a 2015, garante que a produção praticamente não seja alterada, mantendo-se em 2,7 milhões de toneladas ou 44,93 milhões de sacas de 60 kg. Essas estimativas contabilizam o Milho Irrigado. Os EDRs de São João da Boa Vista, Itapetininga e Itapeva têm a maior área destinada a cultura do Milho de 1ª safra no Estado, com 134,5 mil hectares, equivalente a 30,3% da área total do Estado.

A previsão da 1ª safra 2015/16 de Soja no Estado de São Paulo indica ligeira redução de área plantada de 0,4% (755,2 mil hectares) e um aumento na produção de 7% em relação à safra anterior, com previsão de serem colhidas 2,4 milhões de toneladas do grão. Esse aumento na produção é por conta dos ganhos em 7,4% na produtividade. Para o amendoim, as estimativas indicam o aumento de 1,8% na área plantada (107,5 mil hectares), com destaque para o comportamento do EDR de Tupã, que registra aumento de 69%. Já para a produção, as previsões apontam ganhos de 5,8% (375,1 mil toneladas), refletindo o incremento de 4% na produtividade média do Estado.

Resultados Finais da Safra Agrícola 2014/15

Os números finais da safra da cana-de-açúcar apontam um aumento de 0,8% de área (6,170 milhões de hectares); em relação a produção de 436,3 milhões de toneladas, constatou-se elevação de 8%, influenciada pela produtividade de 6,7%. Os dados demonstram que os melhores volumes de chuva contribuíram para a elevação no rendimento por hectare em diferentes níveis nas principais regiões produtoras. Em termos de acréscimos percentuais, pode-se destacar os EDRs de Piracicaba (21%), Presidente Venceslau (18,4%), São João da Boa Vista (17,2%) e Itapetininga (16,9%), com o total geral do Estado sendo da ordem de 6,7% superior. Essas condições propiciaram o aumento dos volumes produzidos, visto que a área em produção se manteve praticamente inalterada (1,2%).

O volume total estimado para a cultura da laranja foi de 295,36 milhões de caixas, 1,6% superior ao obtido em 2014. As condições climáticas colaboraram para o ganho de produtividade de 3,3%. Esses números incluem tanto as frutas comerciais, quanto os frutos provenientes de pomares não expressivos economicamente, e as perdas relativas ao processo produtivo e ao de colheita. As condições climáticas - maior índice pluviométrico e aumento da temperatura, pouco acima da média do ano - colaboraram para o desenvolvimento da cultura, que levou a ganhos de produtividade da ordem de 3,3%. Estima-se produtividade agrícola de 27.227 kg/ha, equivalente a 1,82 cx/pé ou 667 cx/ha.

O Estado de São Paulo é o principal produtor nacional de tomate envarado (para mesa). Em 2015, a área ocupada com esse produto foi de 8,2 mil hectares, 0,7% maior do que o ano anterior que era ..., e o volume produzido 2,5% maior (604,4 mil toneladas), sendo a produtividade 1,8% maior que em 2014. A região Sudeste do Brasil contribui com 54,4%, a região Sul com 23,4% e o Nordeste com 22% do total nacional.

As previsões e estimativas de safras agrícolas, elaboradas pelo IEA, em parceria com a Cati, atendem as orientações do governador Geraldo Alckmin de oferecer informações substanciosas e trabalhar em sintonia com o setor, afirma o secretário de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim. “Os dados sobre o aumento de produção e produtividade de cana-de-açúcar representam um alento para um setor que é estratégico para o Estado e o País. Aparentemente, o caminho para superação da crise que atingiu o setor nos últimos anos está se delineando. Essa informação, aliada às perspectivas de aumento na produção de grãos, geram a expectativa positiva de que a agricultura continuará segurando as pontas da economia em 2016”, destaca o titular da Pasta.

Para ler o artigo na íntegra e conferir as tabelas, acesse http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13982

Preços globais de alimentos continuam caindo em 2016, diz FAO

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Os preços globais de alimentos caíram em janeiro para próximo de uma mínima em sete anos, pressionados por quedas em todo o setor de commodities alimentícias, particularmente no açúcar e nos laticínios, disse nesta quinta-feira a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

O índice de preços da FAO, que mede as variações mensais em uma cesta de cereais, oleaginosas, laticínios, carnes e açúcar, ficou na média de 150,4 pontos em janeiro, ante 153,4 pontos da média revisada do mês anterior.

A queda de 1,9 por cento ante dezembro segue um recuo de quase 19 por cento ao longo de 2015, a quarta redução anual consecutiva.

Os alimentos nos mercados internacionais em janeiro estavam 16 por cento mais baratos que um ano antes, disse a FAO.