A melhoria da produtividade das culturas por meio da promoção da biodiversidade dos polinizadores é o tema abordado por artigo publicado pela Science, uma das revistas científicas mais conceituadas do mundo, do qual a pesquisadora Sidia Witter, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), é um dos coautores. O trabalho foi coordenado pelo pesquisador argentino Lucas Garibaldi, com participação de 35 cientistas de 18 países, incluindo 11 instituições brasileiras.
O estudo investigou se a densidade e riqueza de polinizadores poderiam melhorar os rendimentos de 344 lavouras de 33 sistemas de culturas, em pequenas e grandes propriedades da África, Ásia e América Latina, por um período de cinco anos. No Rio Grande do Sul, a cultura estudada foi a canola, no município de Guarani das Missões.
Os pesquisadores descobriram que o efeito dos polinizadores na produtividade depende muito do tamanho do campo e da densidade e diversidade desses polinizadores. “Em campos agrícolas pequenos, o ganho de produtividade depende da quantidade de polinizadores. Em áreas acima de dois hectares, tais benefícios só foram detectados quando a diversidade de polinizadores era elevada”, explica Sidia. O estudo mostra que não adianta apenas aumentar a quantidade de abelhas nas lavouras ou pomares dependentes de polinização: os agricultores também precisam manter e conservar diferentes espécies de abelhas e outros polinizadores nas suas propriedades para obter um incremento na produtividade.
De acordo com a pesquisadora da Fepagro, outros estudos também apontam que as paisagens homogêneas, resultantes de modificações no uso do solo em áreas de agricultura intensiva, provocam alterações na abundância e riqueza de polinizadores, reduzindo suas populações. “A diversidade e abundância de polinizadores em uma propriedade rural são fortemente influenciadas, especialmente, por dois fatores: o manejo da paisagem circundante às culturas agrícolas e o modo como são utilizados os agrotóxicos”, destaca.
O artigo conclui que essa tendência pode ser invertida com adoção de medidas que possibilitem condições mais amigáveis à sobrevivência dos polinizadores em áreas agrícolas, como manter ou cultivar uma diversidade de plantas no entorno das lavouras, beira de estradas e outros locais na propriedade rural, além de conservar ou restaurar áreas de florestas adjacentes às culturas. “As plantas dessas áreas fornecerão recursos para a alimentação dos polinizadores ao longo do ano, locais para repouso, reprodução e para construção dos ninhos”, explica Sidia. Outra medida sugerida é o uso consciente de pesticidas.
O estudo é integrado ao Projeto Polinizadores do Brasil, do Ministério do Meio Ambiente, e foi financiado pelo CNPq e o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Entre as instituições brasileiras participantes da pesquisa, além da Fepagro, constam: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Embrapa, Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema).
Abelhas e agricultura – Mais informações sobre boas práticas para manutenção de polinizadores em áreas agrícolas podem ser obtidas no livro As abelhas e a Agricultura, elaborado por Sidia junto com os pesquisadores Bruno Lisboa (Fepagro), Vera Lucia Imperatriz-Fonseca (USP), Patrícia Nunes-Silva (PUCRS) e Betina Blochtein (PUCRS).
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