quinta-feira, 7 de julho de 2016

A bússola do agronegócio aponta para o Sul da América

Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai desenham um verdadeiro gigante no mapa global: são 12 milhões de quilômetros quadrados, mais que os Estados Unidos (9,85 milhões km²) e a União Europeia (4,32 milhões km²). O enorme espaço territorial é fundamental para o desenvolvimento da agricultura, atividade que não para de crescer na região.

Nos últimos 20 anos, as exportações de soja e milho dos quatro países latinos tiveram um salto de aproximadamente 700%. Foram 123,9 milhões de toneladas na safra 2015/16, 29% a mais que os Estados Unidos, que tiveram crescimento de 10,3%. O Brasil, sozinho, representa mais de dois terços do total exportado. Os dados são do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). “No final da década de 1990, a China entrou na Organização Mundial do Comércio. O país tinha um crescimento muito forte. As importações de soja cresceram. E quem tinha área pra aumentar a produção era o Brasil”, diz o diretor de commodities da FC Stone, Glauco Monte. “Os EUA estavam consolidados, o crescimento era mais limitado”, explica.

Segundo especialistas, o Sul do continente americano deixou de ser apenas um coadjuvante. No entanto, apesar do boom das últimas décadas, ainda tem um longo caminho a percorrer. “O protagonismo varia muito conforme a oferta”, avalia o analista de mercado da Granoeste, Camilo Motter. “Mas, na formação de preços, o peso da safra norte-americana ainda é maior. Existe um monitoramento forte, os grandes investidores estão lá, a bolsa de Chicago. O acompanhamento é mais efetivo. O protagonismo é sazonal, mas com eles é mais intenso”, acrescenta.

Crescimento

A América do Sul é chamada de ‘celeiro do mundo’ há décadas. No entanto, é preciso avançar mais para aproveitar todo o tamanho territorial e a capacidade de produção da região. “As mudanças climáticas são um grande desafio e precisamos de tecnologia pra contornar. Também temos que melhorar nossa infraestrutura logística, investir em ferrovias e produzir mais carne, por exemplo, que demanda soja, para que o grão circule aqui com valor maior”, opina Monte, da FC Stone. “Os investidores estão vindo para cá. A América do Sul é o maior produtor e exportador de grãos. E isso tem um peso enorme”, afirma. Os quatro países serão abordados durante os painéis da 4.ª edição do Fórum de Agricultura da América do Sul, que acontece entre os dias 25 e 26 de agosto, em Curitiba.

A nova cara da Argentina

Enquanto o Brasil mantém a liderança no agronegócio sul-americano, nosso maior vizinho, em tamanho e potencial, a Argentina, começa a retomar um ritmo de crescimento que fortalece a região.

Assim que assumiu o governo, em dezembro de 2015, o presidente eleito Maurício Macri cumpriu a promessa de eliminar e reduzir as taxas de exportação de soja, milho e carne, que chegavam a 30%.

O resultado foi um aumento de 68% nas exportações agrícolas logo no primeiro trimestre de 2016. “A medida vai remunerar melhor e estimular os produtores”, diz Camilo Motter, da Granoeste.

Com relação à nossa principal moeda no mercado agrícola: a soja, os efeitos das novas políticas não devem afetar o comércio brasileiro. A tributação sobre a oleaginosa para os argentinos caiu de 35% para 30% e, pelo planejamento do governo, ainda terá uma redução gradativa nos próximos anos, até ser completamente eliminada. “O forte do país é a produção de farelo e óleo, por isso não há tanto impacto nos embarques do grão”, explica Glauco Monte, da FC Stone. 

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