Instituições de pesquisa de diversas partes do mundo já detectaram que há uma perda sensível de polinizadores a nível mundial. Responsáveis pela transferência de pólen das anteras de uma flor masculina para o estigma de flores femininas, permitindo que aconteça a fecundação, os polinizadores (aves, morcegos, besouros, borboletas, mariposas e abelhas) atuam diretamente na polinização de 75% das variedades de cultivos para alimentação humana, já que 87,5% das espécies de angiospermas não são capazes de se autofecundar.
Nos dias 30 e 31/03/2015, a Embrapa e outras instituições de pesquisa participaram da reunião final do Projeto Global GEF/PNUMA/FAO "Conservação e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentável, através da Abordagem Ecossistêmica", coordenado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e implementado em sete países: Brasil, África do Sul, Índia, Paquistão, Nepal, Gana e Quênia. O objetivo foi compartilhar dados quantitativos sistematizados sobre as perdas populacionais de polinizadores para a elaboração de uma política pública nacional sobre polinizadores.
Durante a reunião, pesquisadores da Embrapa e de mais de 10 instituições brasileiras de pesquisa e ensino apresentaram os principais resultados do projeto. No Brasil, o destaque foram os estudos em áreas de cultivo de algodão, caju, canola, castanha-do-brasil, maçã, melão e tomate. A Embrapa realizou pesquisas com os polinizadores da castanha-do-Brasil (Márcia Maués, Embrapa Amazônia Oriental), com os polinizadores do meloeiro (Lúcia Kiill, Embrapa Semiárido) e com os polinizadores do algodão (Carmen Pires, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia).
A pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Carmen Pires traçou um panorama completo sobre o projeto Polinizadores do Algodoeiro no Brasil, pesquisando as abelhas do algodoeiro (Gossypium hirsutum – Malvaceae) em três biomas nos quais essa cultura tem grande expressão econômica e/ou social: o Cerrado, o sul da região Amazônica e a Caatinga. O projeto foi executado pela Embrapa em parceria com a Embrapa Algodão, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB).
Segundo a pesquisadora, os estudos foram realizados em dois tipos de áreas agrícolas: duas fazendas de grande extensão de cultivo tradicional com alto grau de mecanização e uso intensivo de insumos agrícolas (Sinop, MT e Cristalina, GO) e duas pequenas propriedades de cultivo convencional com baixo nível tecnológico e sem aplicação de inseticidas (Mundo Novo e Campinaçu, GO). Também foram realizados estudos numa região de Caatinga onde o algodoeiro é cultivado juntamente com outras culturas e em sistema agroecológico (Remígio, Sumé e Prata, PB).
Os objetivos do projeto eram quatro: estabelecer quem eram os visitantes florais do algodoeiro cultivado em diversas regiões do Brasil, sob diferentes sistemas culturais; identificar os potenciais polinizadores dos algodoeiros em cada região; estimar o impacto da cotonicultura sobre os visitantes florais dos algodoeiros nos campos cultivados e em suas imediações e sugerir práticas alternativas para a melhor conservação desses agentes.
Uma alta riqueza de espécies de abelhas foi encontrada durante a pesquisa, que capturou um total de 10.260 indivíduos na Paraíba, 765 no Mato Grosso e 5.981 em Goiás. A espécie de abelha Apis mellifera(abelha do mel) foi a mais abundante, seguida por Trigona spinipes (irapuá), Gaesischia sp., Ptilothrix plumata e Diadasina sp.. Foram aproximadamente 100 espécies na Paraíba, 18 espécies no Mato Grosso e 44 espécies em Goiás.
Os resultados também mostraram que, tanto no plantio convencional quanto no orgânico, as abelhas aumentam a produção do algodoeiro. Embora a produção de algodão não dependa inteiramente da polinização promovida pelos insetos, a pesquisa verificou que ela pode ser aumentada quando as abelhas visitam as flores do algodoeiro. Os estudos realizados em Sinop (MT), entre 2011 e 2012, mostraram que os plantios que ficavam próximos a matas secundárias de floresta nativa, que apresentavam maior riqueza de abelhas, tiveram maior porcentagem de fibra, mais sementes por fruto e maior produtividade comparados com plantios localizados a 2 km de distância das matas. Os experimentos realizados no Nordeste comprovaram o que foi observado no Mato Grosso. "A produtividade foi incrementada em 27% em relação à média produzida na safra 2011/2012 com a presença de somente quatro espécies de abelhas (Appis mellifera e mais três espécies silvestres) na área. De maneira que é possível dizer que o benefício da visitação das abelhas para a produção dos algodoeiros é real", afirma Carmen Pires.
Por esse motivo, uma das recomendações do projeto é preservação das áreas cobertas por vegetação nativa nas proximidades dos campos cultivados e a inserção, no manejo das culturas agrícolas, de práticas que favoreçam os polinizadores, como a redução do uso de defensivos agrícolas – principal causa de mortalidade de abelhas. "Nossos dados mostraram que nas áreas de algodoeiro agroecológico foram observadas aproximadamente três vezes mais espécies de abelhas visitando os algodoeiros do que nas áreas de produção convencional", explica a pesquisadora.
Outras recomendações feitas pela pesquisa é a diversificação dos cultivos para garantir fonte de alimento (pólen e néctar) para as abelhas durante maior período do ano, além de atrair maior diversidade de espécies; e a utilização do sistema de Plantio Direto (sem revolvimento do solo) para favorecer as abelhas que constroem ninhos no solo. A pesquisadora complementa: "Para garantir a presença das abelhas nos cultivos agrícolas, é fundamental que os agricultores minimizem os impactos ambientais, procurando mudanças progressivas que os levem a sistemas de produção mais amigáveis para o ambiente. Em longo prazo, os próprios agricultores serão os principais beneficiados por um ambiente saudável".
Fonte: Embrapa
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