Os aumentos na conta de luz e no diesel terão impacto de pelo menos R$ 172 por hectare nos custos de produção de lavouras irrigadas de milho, soja e arroz para a próxima safra. No caso do arroz, o aumento total será de R$ 218 por hectare, ou seja, o produtor precisaria colher seis sacos de arroz de 50 kg a mais por hectare, nos preços de hoje, só para pagar a diferença. As informações, divulgadas pela Assessoria Econômica do Sistema Farsul nesta quarta-feira (28), se baseiam em levantamento da Federação realizado em parceria com o Cepea/USP.
O período abordado pelo estudo é o da colheita da safra 2014/2015 até a colheita da safra de 2015/2016, cujo plantio inicia em setembro. “Estamos nos antecipando aos problemas da próxima safra”, aponta Antonio da Luz, economista da Farsul. Enquanto 100% da produção de arroz gaúcha é irrigada – e, consequentemente, todos os produtores serão afetados pelos aumentos -, em torno de 9% das lavouras de milho e 1% das de soja se encaixam no perfil, conforme dados da Comissão de Irrigantes da Farsul.
Somente os aumentos na energia elétrica representam R$ 178 a mais de custo por hectare na cultura do arroz. O diesel, por sua vez, é responsável por outros R$ 40 de aumento, chegando ao crescimento de custo total de R$ 218 por hectare.
O segundo produtor mais impactado pelas medidas é o de milho. Nos preços atuais, ele deveria colher sete sacos a mais por hectare para pagar os ajustes nas contas – o que corresponde ao aumento total de custo de R$ 173 por hectare. Apenas o encarecimento da energia elétrica representa R$ 165 a mais de custo por hectare nessa cultura.
O produtor de soja está logo a seguir na tabela, com aumento de custo de R$ 165 por hectare por conta da luz – e R$ 172 somando energia elétrica e diesel. Para cobrir os novos gastos, o sojicultor deveria colher mais três sacos por hectare, de acordo com os preços atuais.
O diesel fica mais caro em decorrência da volta do imposto CIDE, que trará aumento de R$ 0,15 no preço do litro para as refinarias, segundo a Assessoria Econômica da Farsul. Para o produtor não sair prejudicado pelas altas, da Luz mostra que as refinarias teriam margem para absorver esse aumento, sem o repassar ao produtor rural. “O preço do diesel na bomba reflete um período em que o barril de petróleo custava US$ 140. Hoje, as refinarias compram o barril por US$ 45 e o preço na bomba permanece o mesmo”, alega.
Os cálculos para o aumento de custo a partir da energia elétrica, por sua vez, tiveram como base a alta consolidada no final de 2014 e os 37% de aumento previstos pelo Instituto Acende Brasil para 2015, considerando o fim do subsídio ao setor elétrico, a elevação do preço de Itaipu e o reajuste anual. O Sistema Farsul defende que o governo mantenha o subsídio ao setor elétrico quando a energia é destinada ao meio rural, uma vez que os investimentos nas redes foram feitos pelos próprios agricultores.
Preocupado com os custos de produção do arroz, que cada vez mais se aproximam do preço do saco de 50 kg, Francisco Schardong, presidente da Comissão do Arroz da Farsul, lamenta os aumentos e pede que a Conab revise suas planilhas com urgência. O custo de produção total calculado pela Farsul para a atual safra é de R$ 5.524,43 por hectare, o que representa custo de R$35 a R$40 por saco ao produtor, dependendo da produtividade. Já o preço do saco de 50kg do arroz em casca está em R$ 39, segundo boletim mais recente da Emater/RS. “Nós queremos saber de onde a Conab tira esse custo de cerca de R$ 28 por saco. O grande ponto de interrogação é esse: quais são os parâmetros que o governo está usando para chegar ao preço irrisório que ele tem hoje”, questiona Schardong. “De nada adianta estarmos com um preço razoável de quase R$ 40 a saca de arroz quando gastamos R$ 38 (por saco) para produzir. Não sobra quase nada”.
O presidente da Comissão de Irrigantes da Farsul, João Augusto Telles, se mostra indignado com os aumentos na conta de energia elétrica. A comissão incentiva o uso da irrigação em lavouras de soja e milho e se esforça para que os produtores tenham acesso a licenças e à rede elétrica. “É lastimável que, justamente em um momento em que os produtores (de milho e soja) estão induzidos a investir em novas tecnologias, aconteça esse aumento. O reflexo vai ser direto e causa preocupação nos agricultores. Eles vão pensar duas vezes se vale a pena antes de fazer o investimento”, alerta Telles.
Fonte: Grupo Cultivar
28/01/2015
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