A alta dos juros no crédito agrícola não impediu o empresário Vinícius Nunes Ventura, de 45 anos, de financiar a compra de dois tratores na 23ª edição da Agrishow, feira de tecnologia agrícola realizada em Ribeirão Preto (SP) até sexta-feira (29).
"Já até comprei trator com taxas menores, de 4,5%, mas ainda vale a pena. Para a agricultura está muito bom", diz o produtor de leite e criador de gado de corte de Guanhães (MG). Ele obteve um crédito de R$ 282 mil por meio do Pronamp, uma das linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), a uma taxa anual de 7,5%.
Ventura contratou o recurso com o banco da própria fabricante dos tratores, a John Deer, uma das empresas que oferecem financiamento para equipamentos como tratores e colheitadeiras aos visitantes da Agrishow. O valor pré-aprovado entre as instituições no evento chega a R$ 10,2 bilhões - volume estimado pelo Banco do Brasil. A projeção de alta na procura chega a 15%.
Os bancos consideram o cenário ideal para negócios, mesmo com aumento dos juros no setor - o Moderfrota, por exemplo, antes com taxa anual de 4,5% a 6%, hoje tem custo de 7,5% a 9%.
O principal argumento é de que os juros dos empréstimos agrícolas seguem inferiores à Selic, taxa básica de juros praticada pelos bancos, em 14,25%. A rentabilidade das commodities, beneficiada pela alta do dólar, também impulsiona a procura, segundo profissionais do setor.
"A taxa continua mais ou menos equivalente a 50% da Selic. Para o agricultor, qualquer valor, qualquer empréstimo abaixo da Selic, mesmo que tenha dinheiro para pagar à vista para pagar a máquina, vale a pena aplicar o dinheiro no banco e tomar o empréstimo a 7,5%", explica o diretor comercial do Banco John Deere, Sérgio Moreira.
Crédito rural
Além do Pronamp, uma das apostas da empresa é uma linha de até R$ 300 mil voltada à agricultura familiar - o Pronaf Mais Alimentos - com taxas que variam de 2,5% a 5,5% ao ano e prazo de até dez anos para quitação.
Perfil de produtor que representa 50% do potencial de vendas da fabricante, com tratores de menor potência. "São agricultores que têm renda de até R$ 360 mil por ano. Tem todo um enquadramento de geração de emprego, família, tipo de bem que produz e tamanho da propriedade", diz.
Com programas como esse e com o Moderfrota, considerado o carro-chefe do portfólio, ele estima um crescimento parcial de 15% nas intenções de crédito assinadas no primeiro dia da feira. No ano passado, essa procura somou R$ 332 milhões.
A boa rentabilidade do setor agrícola associada a uma incerteza sobre o anúncio do próximo Plano Safra impulsionam a procura por financiamento, segundo ele. "A gente não tem ainda uma sinalização do que vai ser o próximo ano-safra, então tem muita gente aproveitando o bom momento para a agricultura para antecipar alguma compra."
Demanda por financiamento
A demanda por investimentos também é vista pelo diretor de agronegócios do Santander, Carlos Aguiar, que projeta alta 15% na prospecção de créditos em relação à última edição da Agrishow, quando foi registrado um protocolo de R$ 460 milhões.
A instituição pré-aprovou R$ 860 milhões em recursos para os clientes na feira para diferentes aportes do BNDES. "Nos últimos 40 dias, houve vários comitês de crédito na região. Facilita, o cliente vem aqui, só tem que ir lá e escolher a máquina", diz.
Diante de juros mais altos, ele analisa que o produtor continuará a contratar crédito, mas desembolsará mais na entrada como compensação. "O produtor já acha que é um custo caro ou custo normal, mas o que achamos é que o mercado vai ficar dessa forma, menos subsidiado", afirma.
Produtor de soja e milho em Campo Grande (MS), Rodolfo Paulo Schlatter, de 53 anos, fechou com o banco um contrato de R$ 10 milhões para renovar 20% de suas máquinas através do Finame, financiamento de máquinas e equipamentos oferecido pelo BNDES.
O bom momento para a sua área de atuação - as duas culturas juntas geram 2,7 milhões de sacas ao ano, segundo ele - favorece a procura por crédito. "Não é barato, mas também não é tão caro. Aquelas taxas que houve dois anos atrás eram bem melhores, mas o país não teve condição de manter", comenta.
Crédito pré-aprovado de R$ 10,2 bilhões
Também presente na Agrishow 2016, o Banco do Brasil levou um crédito pré-aprovado de R$ 10,2 bilhões para 25 mil clientes cadastrados e esperados na feira. Além disso, a instituição aposta em um aplicativo com simulador de financiamento e a disponibilidade de R$ 536 milhões em recursos próprios a fim de agilizar os contratos.
A expectativa para 2016 é ao menos alinhar as propostas de financiamento, que no ano passado somaram R$ 2 bilhões.
"Na Agrishow o produtor está tendo condições diferenciadas para comprar máquina, está tendo um poder de barganha maior para negociar preço. Digo que é o momento de investir, de aproveitar, de agregar tecnologia", afirma José Roberto Sardelari, superintendente do Banco do Brasil em São Paulo.
Para o gerente regional da Caixa Econômica Federal, Célio Pereira Silva, a busca por financiamentos está diretamente ligada a uma necessidade constante de aprimoramento no campo. Além de recursos do BNDES, o banco oferece linhas de até R$ 385 mil por beneficiário.
"O investimento na modernização da frota e em tecnologia como um todo é essencial para o desenvolvimento do setor do agronegócio. Competitividade e produtividade estão diretamente relacionadas aos investimentos realizados na atividade", diz.
Fonte: Globo Rural
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