Resistente às principais doenças da bananeira e apropriada para processamento de petiscos do tipo chips, a banana Pelipita pode ser uma ótima opção para incrementar a renda de pequenos produtores da região Norte. Há interesse da agroindústria local em produzir o petisco, mas ela não tem encontrado no campo produção suficiente do fruto. Essa oportunidade é apresentada pelo projeto Banana Pelipita: Alternativa para agricultores familiares do Estado do Amazonas na diversificação e agregação de valor na cadeia produtiva de plátanos para chips, liderado pela Embrapa Amazônia Ocidental (AM) e cofinanciado pelo Banco da Amazônia.
A pesquisadora da Embrapa Mirza Carla Normando Pereira explica que o objetivo é mostrar que a banana Pelipita reúne qualidades superiores à banana Pacovan ou D'angola, apesar de sua aparência pouco atrativa, e que poderá atender à demanda da agroindústria para esse fim. Além da resistência às principais doenças da bananeira e da qualidade dos frutos, a Pelipita pode atingir produtividade entre 27 toneladas a 38,5 toneladas/ano; ou seja, pelo menos 50% superior à banana Pacovan ou D'angola, sempre que cultivada adequadamente. Os frutos apresentam vantagens em relação aos da banana D'angola ou Pacovan, tais como 650% mais fibra e 625% menos gordura na polpa, o que lhes confere melhor digestibilidade e maior rendimento industrial, quando empregados na fabricação de farinha e banana chips.
Apesar de apresentar essa série de vantagens, a Pelipita não caiu no gosto dos produtores amazonenses, devido à aparência semelhante à banana Sapo, uma espécie que apresenta casca escura. Mas, por outro lado, possui outras vantagens em relação à banana Pacovan: é rica em fibras e quando frita apresenta maior crocância, não encharca, tem coloração alaranjada e sabor muito próximo ao da Pacovan. Essas qualidades fazem com que ela seja apropriada para produção um pouco mais sofisticada: a de bananas chips, e pode ser exportada nesse formato que agrega valor e pode incrementar a renda do pequeno produtor.
Desenvolvida em 2004 a partir de uma espécie peruana, a cultivar Pelipita foi fruto do trabalho de especialistas da Embrapa Amazônia Ocidental e Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA). O intuito foi apresentar uma alternativa à banana Pacovan, muito suscetível às doenças sigatoka-negra, sigatoka-amarela e mal-do-panamá. Assim como a Pacovan, a Pelipita é apropriada para ser consumida na forma cozida ou frita e compor pratos como mingaus ou doces.
Interesse da indústria
Como a banana não despertou interesse dos produtores, a pesquisadora da Embrapa decidiu sair a campo. "A ideia surgiu porque é difícil aceitar que uma banana tão boa não tenha recebido aceitação pelo mercado consumidor", explica Mirza. Ela conta que procurou uma agroindústria de Manaus, que produz bananas fritas do tipo chips, realizou testes e constatou que a banana é de excelente qualidade, crocante, de cor alaranjada, sem diferença no gosto, além de ser muito macia e saborosa. "O proprietário da agroindústria disse que a banana tem o mesmo potencial para exportação que a batata chip", conta a pesquisadora. No entanto, o empresário não encontrou produção suficiente da banana para atender sua demanda. "Por essa razão, estamos incentivando os produtores locais a plantar a Pelipita e a oferer ao mercado", explica.
Entre as ações, estão programados estudos de mercado sobre a cadeia produtiva da banana em Manaus. O projeto prevê a criação de lavouras de Pelipita em área de agricultores familiares e a avaliação da produção agroindustrial de chips com indicadores como rendimento frutos/chips e tempo de prateleira da banana processada. O trabalho envolverá ainda a realização de testes de degustação sensorial comparativo entre Pacovan e Pelipita com o público consumidor e avaliação econômica financeira do sistema de produção da cultivar e da comparação da fabricação dos chips entre os dois tipos de banana.
Resposta à sigatoka-negra
O interesse das pesquisas da Embrapa em buscar alternativas à Pacovan, uma variedade de banana longa, muito apreciada na culinária da região Norte, deve-se ao fato de que essa variedade de banana é suscetível à sigatoka-negra, doença causada pelo fungo Micosphaerella fijiensis, que dizima bananais no Brasil há 18 anos.
A partir da constatação da ocorrência da doença sigatoka-negra no Estado do Amazonas, em 1998, a produção das cultivares de banana tradicionais Prata e Maçã e dos plátanos D`Angola e banana-da-Ttrra, conhecidas localmente como Pacovan e Pacovi, respectivamente, foi reduzida drasticamente devido à suscetibilidade ao fungo Mycosphaerella fijiensis Morelet, que acarreta prejuízo de até 100% de produção dessas cultivares.
Como estratégia de controle a essa doença, vem sendo dada ênfase ao plantio de cultivares resistentes, por ser principalmente mais econômica e ambientalmente correta, evitando o uso de defensivos agrícolas na cadeia trófica. "Isso se torna mais importante quando a produção de banana ocorre em regiões ou bananais com baixa adoção de tecnologias e próximos a lagos e mananciais, como na região Amazônica", explica a pesquisadora.
Várias cultivares resistente à sigatoka-negra foram lançadas ou recomendadas pela Embrapa. Para substituir as cultivares do grupo Prata e Maçã já existem onze cultivares disponíveis que vem sendo cultivadas em várias regiões do País.
Atualmente, no Amazonas, a cultivar do plátano Pacovan, denominada em outros estados como D`Angola, vem sendo, preferencialmente, cultivada e utilizada na produção de banana chips, mingaus, bolos, farinha entre outros produtos. Além de não ser resistente à sigatoka-negra, o cultivo é realizado por agricultores familiares com baixo nível tecnológico. Aliado a isso, os solos de terra firme onde a Pacovan é cultivada apresentam baixa fertilidade e elevada acidez que, associados à falta ou uso inadequado de fertilizantes e corretivos durante o ciclo da planta, levam à baixa produtividade dos bananais.
Banana chips
Uma importante característica desejável na produção de alimentos desidratados, nos quais é incluída a batata chips, mandioca chips, banana chips, entre outros, é a crocância, e a textura é o atributo sensorial que mais influencia na qualidade dos produtos processados.
Conforme Mirza, na cultivar Pelipita, o teor de umidade, menor que o da cultivar Pacovan, torna ainda mais interessante seu uso como alternativa ao agronegócio da produção de chips de banana no Amazonas. O teor de umidade obtido na farinha dessa cultivar é de 9,58%, enquanto da tradicional Pacovan é 10,10%.
Fonte: Embrapa
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