segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Fiesp traça cenário positivo para o campo

Mas, diante das turbulências políticas, no país e no exterior, otimismo é moderado.



Depois de um ano difícil como 2016, marcado por problemas climáticos e turbulências permanentes nos fronts político e econômico, no país e no exterior, o agronegócio brasileiro deverá encontrar em 2017 uma estrada menos esburacada para retomar seu ritmo de avanço. Mas o cenário que se desenha está longe de sugerir que será um desfile em tapete vermelho. Muitos dos problemas que tumultuaram o ano que vai chegando ao fim não estão resolvidos e certamente ainda pressionarão os resultados de diversas cadeias produtivas, e é grande O risco de que o setor seja punido pelo seu próprio sucesso, na forma de mais tributação e protecionismo comercial. 

De maneira geral, o "Outlook Fiesp 2026: Projeções para o Agronegócio Brasileiro", que será lançado hoje pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, corrobora essa visão "cautelosamente otimista" para o ano que está por vir. Mas o material preparado pela MB Agro, braço da consultoria MB Associados, identifica muitos obstáculos ao longo do caminho—desde os riscos derivados do fenômeno La Nina, até a eleição do ainda imprevisível Donald Trump à presidência dos Estados Unidos — passando pelas rachaduras na política nacional, que têm ajudado a retardar o resgate de uma economia que definha há mais de dois anos.

"Há muitos e grandes desafios de curto prazo, advindos especialmente da situação econômica do país, que afetam diretamente o desempenho do agronegócio. Mas também há muitas oportunidades. Atualmente, 60% das exportações do setor passam por algum tipo de industrialização. Precisamos abrir novos mercados, como o asiático, para aumentar essa proporção. Se o governo fizer o que precisa ser feito em termos
de política comercial, alcançaremos números ainda mais significativos", diz o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Bem que as coisas podiam ser mais fáceis. Afinal, depois de um ano marcado por um El Nino severo, que prejudicou a produção agrícola do país quase como um todo — a colheita de grãos na safra 2015/16 foi 10,3% menor que em 2014/15, puxada por retrações de milho (20,9%), arroz (14,8%) e feijão (21,6%), e houve quebras importantes no café conilon, na laranja e em frutas, verduras e legumes, entre outras culturas —, a tendência é que as intempéries sejam mais amenas, embora o moderado La Niña que se apresenta esteja provocando algumas alterações indesejáveis. Para a safra de grãos que será colhida no ano que vem, por exemplo, a expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de aumento de até 16%.

"Tivemos queda do PIB superior a 3% em 2015 e teremos outra em 2016, aumentou a relação entre dívida e PIB, a renda per capita recuou mais de 10%, o desemprego está na casa de 12% e a inflação está elevada. É claro que o agronegócio não passou incólume por esse cenário. Tivemos fortes quedas das vendas no segmento de insumos, o consumo de alimentos básicos diminuiu e, sobretudo no ano passado, houve escassez de crédito para o pré-custeio da safra 2015/16. Mesmo assim, o setor recuperou a confiança antes dos demais, os investimentos em tecnologia voltaram a crescer e as perspectivas são melhores", diz António Carlos Costa, gerente do Departamento do Agronegócio (Deagro) da Fiesp.

Mário Sérgio Cutait, diretor do Deagro, observa que a valorização do dólar em relação ao real — que perdeu um pouco de fôlego depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas voltou a dar o ar da graça depois da eleição de Trump — gerou reflexos positivos para as cadeias exportadoras, já que compensou algumas quedas de preços, e influenciou a retomada da confiança. E lembra que uma das incógnitas de 2017 é justamente o câmbio, que refletirá, em boa medida, as políticas que serão adotadas pelo novo presidente americano no país e sua postura efetiva nas relações comerciais. 

Alexandre Mendonça de Barros, que comanda a MB Agro, destaca o papel do câmbio para o desempenho dos segmentos de cana, café e laranja em 2016. Em virtude de quadros globais marcados por ofertas apertadas, as cotações internacionais das três commodities se mantiveram em elevado patamar durante boa parte do ano — o valor médio mensal dos contratos futuros de segunda posição de entrega do suco de laranja foi o maior da história em Nova York em novembro —, e a moeda americana também em nível elevado ajudou a compensar a alta de seus custos de produção em real.

"Mas, se 2016 marcou a melhora dos mercados de cana, laranja e café, deveremos observar em 2017 a reação do segmento de carnes, sobretudo no segundo semestre", afirma Mendonça de Barros. Em 2016, uma combinação poucas vezes vista afetou esse mercado no país: houve quedas do consumo per capita das três carnes (bovina, frango e suína). Em época de redução do poder de compra, normalmente ocorre migração do consumo da carne mais cara (bovina) para as outras duas.

Segundo Costa, outros desafios para o agronegócio no ano que vem serão resistir à tentação dos governos federal e estaduais de ampliar a tributação sobre as cadeias produtivas lucrativas, como a exportadora de grãos e a já citada eventual "onda protecionista" que pode ser gerada por Trump. "Em um primeiro momento, podemos ver até algumas vantagens para ou produto ou outro. Mas todo movimento protecionista é ruim para o agronegócio brasileiro", diz, destacando a competitividade do setor—que, se tudo correr normalmente, continuará em ritmo mais intenso que a média global na próxima década.

Fonte: Valor Econômico

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