A esperada retração da economia no primeiro trimestre de 2015 recebeu um forte empurrão dos investimentos em produção. Em comparação com o trimestre anterior, a chamada formação bruta de capital fixo recuou 1,3% – a sétima queda consecutiva. Se antes o país estagnava porque consumia menos, agora ele encolhe também porque investe menos, avaliam economistas ouvidos pelo G1.
Três motivos tiraram o fôlego dos investimentos: as incertezas na economia (com o ajuste fiscal ao fundo), o enfraquecimento da indústria e as investigações da operação Lava Jato, que congelaram contratos entre a Petrobras e grandes empreiteiras, afetando a cadeia de fornecedores de infraestrutura e construção civil.
Segundo a economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro, as denúncias envolvendo a estatal pesam mais que o próprio ajuste sobre os investimentos. “Os negócios da Petrobras representam cerca de 2% do PIB, e os das empreiteiras, 3%, somando 5% de todos os investimentos do país, o que é muita coisa”, observa.
A queda nos investimentos é a nova vilã do PIB (Produto Interno Bruto), segundo economistas, porque são eles que dão o "fermento" para o país crescer. Tudo o que o é investido para produzir entra na chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Isso inclui todos os bens de capital (bens para produzir outros bens), como maquinários e equipamentos industriais.
A taxa de investimento do Brasil em relação ao PIB ganhou força a partir de 2006, e atingiu seu pico em 2010. Na época, os investimentos chegaram a subir 29% no 1º trimestre ante o mesmo período do ano anterior. Fechou o ano a 19,5% do PIB, mas logo passou a cair.
No ano passado, contudo, essa taxa voltou a subir e atingiu 19,7%, graças ao novo cálculo do PIB, que turbinou o resultado ao incorporar informações. Mas os investimentos caíram por seis trimestes seguidos entre 2013 e o fim de 2014.
“A revisão da metodologia favoreceu a taxa de investimentos porque incluiu gastos com pesquisas e dados da construção civil”, explica Alessandra, da Tendências. Mesmo com esse incremento, a FBCF deve recuar de 19,7% para 18% até o fim do ano, devido ao atual cenário desfavorável, estima ela.
O crescimento do país na década de 2000 foi mais incentivado pelo consumo que pelos investimentos, observa o sócio da Go Associados, Gesner Oliveira. “Isso foi possível graças ao maior acesso ao crédito e melhora na renda das famílias. Em contrapartida, a produtividade não cresceu e não sustentou a alta dos investimentos”, analisa o economista.
Em fevereiro, uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que aprodutividade do trabalhador brasileiro foi a que menos cresceu entre 2002 e 2012, dentro de uma amostra de 12 países como Canadá, Itália e Austrália.
Brasil investe menos entre os Brics
A taxa de investimentos do Brasil é baixa se comparada à de outros países, especialmente os emergentes, lembra Oliveira, da Go Associados. “Para ter um crescimento sustentável, entre 4% e 5% ao ano, o país deveria elevar essa taxa para pelo menos 25% do PIB”, avalia.
Segundo o economista, essa é a proporção ideal para que o Brasil consiga crescer de forma sustentável, sem provocar um colapso por falta de infraestrutura e capacidade produtiva.
A China, por exemplo, manteve essa relação em quase 50% do PIB nos últimos quatro anos, ao passo que a taxa média dos Brics (grupo de emergentes que inclui Brasil, Rússia, Índia e China) está acima de 30%. A Índia investiu 33% do PIB em 2013, enquanto a Rússia, 23%, segundo os últimos dados do Banco Mundial.
O Brasil poderia se dar ao luxo de considerar ideal o atual patamar de investimentos no qual se encontra, segundo Alessandra, da Tendências, apenas se tivesse alcançado um nível desejável de crescimento, bem distante portanto da retração. “Se quisermos voltar a crescer, precisamos necessariamente de mais investimentos”, avalia.
Estímulos para voltar a investir
Na visão da economista, só é possível elevar a taxa de investimentos do país, entre outras coisas, aumentando a capacidade de poupança do setor público. É o que o governo tenta fazer com o ajuste fiscal – uma força-tarefa para cortar gastos e aumentar a arrecadação com o objetivo de tirar as contas públicas do vermelho.
Melhorar o ambiente de negócios e a confiança do setor privado são outros requisitos básicos para o país voltar a investir, segundo Alessandra. “O aumento da produtividade também está relacionado ao da capacidade de investimentos”, observa.
A economista vê uma melhora gradual desses investimentos a partir de 2016, ainda que os resquícios da Lava Jato devam afetar o ambiente até o próximo ano. “Só devemos recuperar a taxa de investimentos de 2014 a partir de 2020, na melhor das hipóteses”, afirma Alessandra.
Corte no Orçamento freia investimentos
O bloqueio de despesas do ajuste fiscal ainda não aparece no PIB, mas deve aparecer nos resultados do segundo trimestre, preveem economistas. Na última sexta-feira (26), o governo autorizou um corte de R$ 69,9 bilhões em gastos no orçamento de 2015, o maior contingenciamento da história em termos nominais.
Do total bloqueado, R$ 25,7 bilhões (ou 36%) foram tirados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prioriza investimentos em áreas essenciais como infraestrutura, saneamento, habitação, transporte e energia.
Mais da metade do corte (54%) afetou os ministérios de Cidades, Saúde e Educação, com uma "tesourada" de R$ 38,4 bilhões – que também representa menos investimentos em áreas prioritárias.
Mesmo com os cortes, o país investe mais em infraestrutura que em anos anteriores. De acordo com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), os investimentos totais na área no país devem somar R$ 611 bilhões entre 2015 e 2018 – volume 33,7% superior aos R$ 457 bilhões calculados entre 2010 e 2013.
O BNDES deverá participar como financiador do pacote de novas concessões em infraestrutura que o governo federal pretende anunciar em junho, mas o governo já deixou claro que depende de financiamentos privados para colocar os projetos em pé.
Fonte: G1
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