Maior produtor de coco seco do país, o município de Conde, no litoral norte da Bahia, vive hoje uma supersafra do fruto. Mas nenhum produtor da região está comemorando o fenômeno, que, a princípio, poderia compensar as perdas com a desastrosa seca de 2013.
A alta abrupta na oferta ajudou a derrubar ainda mais o preço do coco no mercado nacional, que foi novamente inundado pelos asiáticos após o fim da salvaguarda do fruto, há três anos. Os agrônomos de Conde dizem que a supersafra é um reflexo direto do instinto de perpetuação dos coqueirais. As plantas aproveitaram as chuvas dos últimos 12 meses para se reproduzir em grande escala, depois de enfrentar a forte escassez de água no ano anterior.
A "ressaca" da estiagem fez do grande ao pequeno agricultor de Conde conseguir coco de boa qualidade e em grandes volumes, mas todos reclamam de prejuízo. Com 15 mil hectares plantados e 70% de sua economia ligada à produção de coco, Conde é um retrato da atividade no país. Variedades antigas, de baixa produtividade e mais suscetíveis a pragas, colheita manual e alta informalidade trabalhista marcam a produção da cultura, que se espraia por estimados 260 mil hectares no Nordeste e alguns Estados do Sudeste brasileiro. Boa parte desse cenário se deve à baixa tecnificação. Enquanto em áreas de agricultura irrigada pelo rio São Francisco é possível colher até 300 frutos por coqueiro ao ano, a média em Conde não chega a 50. O que predomina na região ainda é o cultivo de sequeiro, ou seja, regado só com as águas das chuvas.
Dona de 8 mil pés de cocos, a produtora Fernanda Salles Grünewald, decidiu construir cinco poços artesianos em sua propriedade após o sufoco com a seca de 2013. Ela, uma das poucas produtoras de Conde que trabalha com irrigação, teve a sorte de encontrar água no subsolo e o azar de ter a primeira colheita após o investimento justamente quando o preço do coco seco atingia suas piores baixas: cerca de R$ 0,35 a unidade. Fernanda conta que chegou a colher 87 cocos em um único cacho este ano. "Vinte cocos por cacho é normal. 25, 30 é ótimo. Já 87 é um problema", diz a produtora. Para o produtor Rômulo Almeida, dono de 12 mil pés todos eles carregados de coco a colheita este ano é uma empreitada fadada ao prejuízo.
Com o preço da unidade praticamente no mesmo patamar de 1996, não compensa pagar as despesas com o tirador de coco, que sobe no coqueiro a R$ 1."Está todo mundo abastecido. Estou com três carretas cheias de coco paradas sem comprador", diz Maurino Domingos Santos, intermediário da venda de coco seco de Conde para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A supersafra em Conde foi apenas o tiro de misericórdia na trajetória de queda dos preços do fruto no mercado nacional, que já vinham sendo pressionados pela importação de coco seco da Ásia. Após dez anos de duração, a salvaguarda do coco chegou ao fim em 2012, acelerando ainda mais o avanço do coco estrangeiro no Brasil.
Além de deprimir a produção doméstica já às voltas com suas próprias deficiências , a entrada dos importados provocou um recuo nos preços de R$ 1,10 a unidade para a faixa atual de R$ 0,3 a R$ 0,4, diz Chico Porto, presidente do Sindcoco. Não à toa, a produção anual do Brasil caiu de 1 bilhão de cocos secos para 500 milhões de frutos nos últimos sete anos. De acordo com Porto, a importação de coco ralado (obtido a partir do coco seco) cresceu 460% nos últimos cinco anos, passando de 5,3 mil quilos em 2010 para 24,3 mil quilos no ano passado. Isso significa que o Brasil comprou de fora do país 70% do seu consumo aparente do produto, quando cinco anos atrás essa fatia era de 17%. A maior ameaça vem da Indonésia, que responde por 65% das importações do produto no Brasil, seguida por Malásia e Vietnã.
No mês passado, o Sindcoco aproveitou a execução do brasileiro Marco Archer condenado a morte na Indonésia por tráfico de drogas para fazer um apelo à presidente Dilma Rousseff. Por intermédio do senador pernambucano Humberto Costa, líder do PT no Senado, a entidade representante do setor enviou carta à Presidência pedindo que se exija a certificação técnica brasileira para que o coco estrangeiro entre no país. A exigência poderia mitigar vantagens competitivas dos asiáticos em termos de salários e subsídios. "A Indonésia não atendeu ao pedido da Presidência de não executar o brasileiro e, há cinco anos, não compra o nosso frango. Mas o coco do país entra no Brasil sem nenhuma restrição", argumenta.
Fonte: Valor Econômico
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