Foto: Divulgação Jornal Floripa |
Foram 20 anos de agricultura convencional. A cada período, era necessário borrifar agrotóxicos sobre as plantas, usar fertilizantes químicos e óleos. Tudo muito “judiado”, como descreve o agricultor Romualdo Campigotto, 66 anos. Há oito anos, ele foi apresentado a um outro modelo de produção – na verdade, um resgate do modo antigo de plantar e de colher. Bananicultor, Romualdo é um dos oito produtores orgânicos da fruta em Jaraguá do Sul. Apesar do tempo de produção, as bananas orgânicas da cidade ainda são pouco conhecidas e contam com poucos representantes. Em breve, porém, um novo espaço deve dar destaque total aos frutos livres de agrotóxicos.
Engenheiro agrônomo da Prefeitura, Jackson Haroldo Schütz, conta que uma das maiores dificuldades dos produtores orgânicos (que ainda são poucos na região) é a venda de suas colheitas. Atualmente, a maior parte dos frutos vai para as escolas e pouco chega ao consumidor final em mercados e feiras – tornando o produto desconhecido. Pensando nisso, um grupo de produtores encontrou uma alternativa inovadora para a cidade.
Está prevista para março a inauguração de uma loja exclusiva para alimentos orgânicos. No endereço, próximo à Prefeitura, serão comercializados produtos jaraguaenses e também de cidades da região, vindos de agricultores ligados à Rede Ecovida (rede de produtores agroecológicos, que realiza a certificação participativa, na qual os próprios produtores fazem a fiscalização de seus pares). Frutas, hortaliças, ervas, temperos, mel e alimentos processados (como compotas, conservas, geleias e até cachaça) são itens que estarão nas prateleiras. Tudo orgânico.
Com isso, espera-se criar um ponto de venda e de valorização dos produtos, já que a comercialização será direta dos agricultores para o consumidor final – eliminando a figura do atravessador e garantindo a renda dos agricultores locais. Além disso, a expectativa é divulgar os orgânicos, que ainda são novidade para muitos clientes da região.
Cultura em crescimento na região
A agricultura orgânica nada mais é que a produção de alimentos sem o uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos e outros insumos predominantes na agricultura atual. Sem o uso desses produtos, as fazendas orgânicas contribuem na biodiversidade e no meio ambiente, evitando situações como a poluição das águas.
Em crescimento constante e cada vez mais disseminada, a produção orgânica é considerada uma tendência mundial. Dados do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) do ano passado indicam que o setor movimenta US$ 62 bilhões ao ano em todo o mundo, com 6% de crescimento anual. No Brasil, estima-se que 1,5 milhão de hectares eram dedicados aos orgânicos em 2014, número ainda mínimo ante os 260 milhões de hectares da agricultura convencional do País. A valorização do mercado e a procura por melhores condições de vida, porém, estimula o crescimento do setor.
O bananicultor de Jaraguá do Sul Romualdo Campigotto já sente os efeitos na saúde e também na qualidade de vida. Após o período de transição dos seis mil pés de banana, no qual os defensivos químicos foram eliminados da lavoura, o trabalho diminuiu, assim como os custos. Como a maior parte dos produtos utilizados no manejo das plantas são naturais, produzidos na própria fazenda, há poucas compras externas.
Romualdo estima que seu gasto com a produção hoje represente apenas 10% do que era pago anteriormente em insumos químicos. Reaproveitando desde o esterco das vacas até laranjas para caldas, o produtor criou um ciclo de sustentabilidade e reaproveitamento: ali, nada vai fora e tudo tem utilidade. Além disso, como a natureza recuperou seu equilíbrio natural, Romualdo conta que tem menos trabalho, restando mais tempo para outras atividades.
Valor mais alto compensa trabalho
O casal Nelson e Arlete Uecker, de Jaraguá do Sul, trabalha com plantações de bananas há pelo menos 50 anos. As terras foram herdadas do pai de Nelson, também bananicultor. Há três anos, o casal e o filho Alberto reservaram parte da plantação para os orgânicos. Hoje são 4,5 mil pés da planta livres de venenos, contra 15 mil de manejo com químicos. Para eles, é principalmente o valor de mercado que compensa.
Em média, alimentos orgânicos são vendidos em um valor 30% mais caro do que outros alimentos. Os Uecker, que inauguraram a venda da banana orgânica nos mercados jaraguaenses em novembro do ano passado, sentem de perto essa diferença. Enquanto uma caixa de 25 quilos da banana convencional é vendida por R$ 15, o fruto orgânico vale R$ 1,50 o quilo (o equivalente a R$ 37,5 a caixa). Como os custos com a plantação são reduzidos, a margem de lucro é ainda maior – e compensa o esforço físico necessário para o cultivo.
Sem agrotóxicos que esterilizam as plantações, os orgânicos podem exigir mais mão de obra. Mas, mesmo assim, a família quer aumentar o espaço dedicado à plantação e também já está diversificando: neste ano, uma colheita de aipim será totalmente livre de agrotóxicos.
Falta valorização do produto
Em Schroeder, um grande produtor de bananas orgânicas, que é referência e exemplo para muitos produtores, depara-se atualmente com dificuldades no setor. Há 15 anos, Valfrido dos Santos, 49, começou a plantação de bananas. Dois anos depois, Valfrido transformou toda a produção em orgânica. Hoje, são mais de 22 mil pés em 15 hectares de plantações.
– Eu não concordo com o uso de defensivos fortes. Então, comecei a ler a respeito e vi que muitos deles são proibidos na Europa, mas utilizados aqui de maneira desenfreada. Eu era jovem, tinha filhos novos e não queria ver eles naquilo. O veneno entra no organismo e a gente nem percebe.
A marca Orgânicos Tio Frido surgiu há 13 anos e, desde então, a região é abastecida com seus produtos. Nesses anos, o bananicultor aprendeu técnicas de manejo e formas de manter a grande produção sem o uso de químicos. Agora, porém, ele depara-se com altos custos de produtos fundamentais para a lavoura: a biomassa cítrica, o sulfato de potássio e o fosfato natural, por exemplo, elevam o preço do cultivo. Com pouca assistência técnica voltada aos orgânicos na região, Valfrido está testando em uma parte de seu terreno produtos que contém os nutrientes necessários para o solo, porém, são fabricados de maneira química.
Se a produção der certo, ele pretende reunir técnicas orgânicas com convencionais. Ele conta que suas bananas são vendidas nos mercados ao preço da fruta convencional, já que na região o reconhecimento dos orgânicos ainda é pequeno Os agrotóxicos, porém, ele garante que jamais voltará a usar.
Fonte: Jornal Floripa
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