O estado de Roraima ainda carece de infraestrutura adequada para se desenvolver. O principal porto da região é de Caracaraí, município que fica a 86 km de Boa Vista. Outros possíveis acessos aos mercados são os portos de países vizinhos, como Venezuela e Guiana. Mais um fator preocupante é o fornecimento de energia elétrica, que é importada da Venezuela, país que há vários anos vive momentos conturbados. Estes foram os principais temas discutidos nas palestras realizadas na solenidade da abertura oficial da Colheita da Soja 2016, que ocorreu na noite da última sexta-feira, dia 2 de setembro, no Centro Amazônico de Fronteira (CAF) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), em Boa Vista, Roraima.
De acordo com o economista e consultor em logística, Luís Antônio Pagot, um dos palestrantes do evento, Roraima precisa de uma infraestrutura mais adequada de acesso a portos, como a saída por Georgetown, Guiana e pela Venezuela, o que poderia facilitar e acelerar o processo de desenvolvimento da cadeia de soja. Para ele, Roraima é uma plataforma de alimentos para o Brasil e o mundo, uma vez que a região é “lacrada”, sem ligação direta com a Amazônia e regiões do Sul e Sudeste, o que reduz muito o risco de contaminação de pragas nas lavouras.
“Como resultado, os produtos são mais limpos e que podem agradar muito mais o mercado internacional. Para mim este é um ponto crucial dessa nova fronteira agrícola”, destacou. E finalizou: “agora é a hora de os produtores e a população roraimense desfrutarem dessa qualidade, da viabilidade de buscar novos mercados e oportunidades”. Mas, para isso se tornar realidade, é preciso melhorar a infraestrutura de transporte e o fornecimento de energia no estado.
O engenheiro civil, Gabriel Debellian, experiente em administração portuária, também foi um dos palestrantes do evento, onde apresentou estudo com as possíveis alternativas logísticas para a exportação de soja de Roraima. Para ele, não existem soluções imediatas, é preciso investir no asfaltamento das rodovias, racionalizar a atuação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e órgãos correlatos, estipulando prazos razoáveis (para sim ou não) quanto a emissão de licenças para a operação dos terminais; aumentar os investimentos privados em terminais, frotas fluviais e ferrovias na região, para que a logística consiga ajudar o desenvolvimento agropecuário roraimense.
No estudo, Debellian traçou a importância do Porto de Georgetown como uma alternativa imediata, principalmente para o pequeno produtor mandar a soja dele individualizada. “É uma forma muito parecida com o que os americanos fazem. O custo é barato e eficiente”, explicou.
Plantio de soja no mundo – Vlamir Brandalizze, outro palestrante do evento, falou sobre as tendências do agronegócio mundial e brasileiro com foco em grãos e carnes. Segundo ele, o plantio de soja em vários países e a demanda crescente de todos os alimentos têm limitações. No Brasil, os produtores continuam melhorando a produtividade em suas lavouras, o que acaba influenciando as cotações de suas exportações, de certa forma, sustentando o país.
Para Brandalizze, especialista em mercados agrícolas, as tendências indicam excelentes condições de crescimento e rentabilidade aos produtores. “Com avanço nas exportações e demanda interna nos setores de carnes, grãos, entre outros, o país vai se posicionando como líder no comércio internacional”, observou o engenheiro agrônomo.
O mesmo panorama é vislumbrado para o setor de carnes. Do ponto de vista da produção, o Brasil é o mais competitivo do mundo e o maior exportador de carne bovina e de frangos. Posição que também pode ser alcançado pela venda da carne de suínos. “Estamos crescendo no mercado mundial, ocupando espaços deixados pela falta de oferta para atender à crescente demanda. Assim, vamos liderando nos diversos mercados, garantindo melhores condições de oferta e rentabilidade aos produtores brasileiros”, comentou.
Brandalizze prevê que os produtores brasileiros podem vislumbrar expressiva participação no mercado internacional, por muitos anos, o que garantirá um crescimento sustentável, já que em muitos países o setor agropecuário está estagnado. “Há uma forte queda na área agrícola da Ásia. A América do Norte e a Europa não mostram evolução de novas áreas e a produtividade está estável. No Brasil, ao contrário, com a expansão de novas áreas - como em Roraima, que rapidamente deverá se tornar um grande polo do agronegócio, além da abertura de novas fronteiras, deve-se destacar a crescente melhoria da produtividade de nossas commodities agrícolas”, frisou o especialista.
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