Diretor de clientes rurais do Itau BBA explica que o foco agora na agricultura está no produtor primário, empresarial
Os principais bancos privados brasileiros têm direcionado esforços para conquistar mais clientes no agronegócio, único grande setor da economia a apresentar resultados positivos. Bradesco, Itau e Santander estão avançando sobre o campo, seja em carteiras de pequenos produtores que respondem por pessoas físicas, seja nas de empresas rurais, apesar de a maior parte do financiamento agrícola ainda ser controlada pelo governo (veja infográfico).
O diretor de clientes rurais do Itau BBA, Antônio Carlos Ortiz, explica que o foco agora na agricultura está no produtor primário, empresarial.
“Isso é estratégico. A agricultura é muito importante. Representa um terço da composição do agronegócio”, afirma. O Itau BBA, que é o braço para o atacado do Itau, tem uma carteira de R$ 265 bilhões, e cerca de R$ 30 bilhões são voltados para o agronegócio.
A perspectiva de Ortiz é a de que neste ano a carteira agrícola cresça em torno de 30%, com um foco importante no setor sucroalcooleiro. No entanto, ele não revela qual é a participação da agricultura no total dos créditos do agronegócio no banco.
Nova equipe
Já o banco Santander tem investido em novos profissionais para se aproximar do campo e contratou 40 agrônomos para entender as necessidades dos produtores.
O superintendente executivo de agronegócios do Banco Santander, Carlos Aguiar, explica que o financiamento com taxas de mercado tem crescido em torno de 10% ao ano. Em 2015, o valor total de crédito disponibilizado pelo banco foi de R$ 261 bilhões. Considerando que a carteira do agronegócio alcançou R$ 38 bilhões, ela representa 14% do total.
“A partir de 2015, o banco resolveu colocar o agronegócio como um de seus pilares. Contratou pessoal para atuar nesse setor, basicamente engenheiros agrônomos, e está montando equipe boa para atuar nas agências e está reforçando a área de crédito”, explica.
O Santander tem como foco nas pessoas físicas que, na realidade, atuam como empresas. Ou seja, médios e grandes produtores que não têm empresas constituídas.
“Na pessoa física você tem menos dinheiro, e muito mais gente. A pessoa jurídica já está super bem atendida. A pessoa física hoje é atendida como pessoa física genérica na agencia. Mas um fazendeiro é um negócio”, argumenta.
Ele explica que, com a entrada de Sério Rial na presidência do banco, no ano passado, o Santander começou a dar mais foco ao setor agrícola. “É o que vai bem na crise”, complementa.
Atualmente, os empréstimos do Santander estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste, mas no futuro pretende expandir para o Centro-Oeste e Nordeste.
Expansão
Já o Bradesco informou que tem R$ 21 bilhões na carteira de agronegócios, o que representa 4,4% dos R$ 474 bilhões de créditos disponibilizados em 2015. No entanto, o banco aposta na expansão do setor e pretende aumentar sua participação.
O Bradesco trabalha com o pequeno, o médio e o grande produtor, além de atuar em toda a sua cadeia produtiva (agroindústria, indústria de máquinas e equipamentos, cooperativas, venda de insumos, frigoríficos e tradings).
Produtores apoiam entrada do capital privado no financiamento da safra agrícola
A participação dos bancos privados no financiamento do agronegócio é vista com bons olhos por representantes do setor rural. Para o coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Renato Conchon, é importante e necessário.
“Primeiro, existe uma necessidade de crédito para financiamento da safra que não é atendida. A demanda é maior que a oferta atual. A gente tem visto esse movimento de alguns bancos financiando. Mas é um movimento novo, que ainda não está estruturado”, avalia.
Ele destaca que a crise da indústria e dos serviços pode fazer com que os bancos entrem ainda mais forte no agronegócio.
“Os bancos se atentaram um pouco para isso. Viram que o retorno é bom e que a taxa de inadimplência é baixa. Não entendi porque que os bancos demoraram tanto a entrar no setor”, questiona.
Ampliação
Para os próximos anos, Conchon acredita em uma ampliação do crédito dos bancos privados, em função do momento econômico pelo qual o Brasil atravessa. “A recuperação do Brasil para absorver o crédito será lenta e, por isso, (os bancos) vão focar no agro”, argumenta.
Questionado se o foco no setor primário não seria um retorno ao modelo agro-exportador, tão criticado décadas atrás, Conchon é enfático ao defender o setor.
“Não é ruim ser agro-exportador. É ruim só ser isso. A gente tem que apostar no que a gente é bom. A gente é muito bom com a agricultura, mas não pode ser a única coisa que se faz”, argumenta.
Já a coordenadora de assistência técnica da Faemg, Aline Veloso, avalia que a participação de outras instituições pode auxiliar o produtor escolher em qual instituição bancária quer buscar o crédito.
“As exportações e importações sustentam a economia do país e todas as instituições financeira estão de olho. Em Minas há um interesse dos bancos em ofertar crédito. E o próprio produtor já está demandando as instituições financeira privadas”.
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