sexta-feira, 15 de maio de 2015

Alta do dólar e inflação: produtor deve ficar atento

O dólar está valorizado e, pelo menos ao que parece, deve continuar assim. A inflação medida pelo IPCA – índice oficial do governo brasileiro - deve se manter acima do teto da meta, de acordo com o projetado pelo mercado. Para o produtor rural, o momento é de atenção, já que esses dois importantes indicadores podem interferir no resultado da atividade e, consequentemente, na sua renda. A relação que resume tudo é bem simples: PV (preço de venda) > PC (preço de custo). A rentabilidade depende de vender por um valor acima do que custou para produzir. Mas o que têm a ver o dólar e a inflação com isso?

Em primeiro lugar, pode parecer que o dólar em forte subida é apenas positivo, uma vez que a safra, a princípio, acaba sendo vendida por um valor maior. Porém, o setor precisa ficar atento às contas e entender que para produzir, diversos insumos estão atrelados ao mercado internacional via câmbio, o que encarece o custo. Esse raciocínio serve, principalmente, para os produtos exportados. Os que são consumidos dentro do país vão depender do repasse para o consumidor, o que é mais difícil.

Outro fator muito importante é o câmbio atrelado ao aumento da inflação no Brasil. É necessário prestar atenção a uma equação que considera o preço de venda da safra. A influência do preço de aquisição insumos pode ser muito maior do que o possível lucro na hora da venda. E isso passa por diversos produtos, desde componentes de adubagem especiais que vêm de fora até mesmo os feitos aqui, mas com matéria prima do exterior.

O ciclo agrícola é muito extenso e requer atenção. Um produtor rural mais desatento pode não calcular com a exatidão necessária o quanto vai custar hoje para plantar e fazer uma relação com estimativa de quando a safra será colhida, considerando fatores de mercado relacionados diretamente a sua produção e a economia externa.

A produção e a balança comercial dependem da consagrada máxima de oferta e demanda. Isso passa também pela necessidade de determinados alimentos, sua importância, custo-benefício dos produtos finais para o mercado consumidor e o quanto o mercado externo - tendo suas moedas mais fortes frente ao Real - enxerga os preços brasileiros. Certamente, a princípio, eles parecem mais interessantes para negociação.

Portanto é fundamental ao setor agrícola pesquisar o que deve ter maior demanda e se programar, fazendo um paralelo entre os ciclos de plantio. Vale considerar, além das questões de clima, os possíveis reajustes do dólar para quando for investir nos insumos necessários. Contar com as possíveis oscilações do mercado financeiro ajuda a não perder dinheiro na colheita e na venda.


Fonte: Globo Rural
por Miguel Daoud, analista financeiro e diretor da Global Financial Advisor

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