Entre 2011 e 2014, o mercado mundial de produtos biológicos teve crescimento médio de 15,3% ao ano, segundo levantamento feito pela CPL Business Consultants. No Brasil, a expectativa é manter essa curva ascendente com espaço para um incremento ainda maior, de até 20%. Mas se por um lado há demanda por essa tecnologia no campo, faltam produtos para atender o mercado em larga escala. “Se todo mundo resolver usar o controle biológico hoje, nós não temos possibilidade de atender”, disse José Roberto Postali Parra, pesquisador da Escola Superior de Agricultura (Esalq/USP), durante workshop promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em São Paulo.
No Brasil, 50 empresas respondem pela produção de agentes que atuam no controle de pragas, seja macro-organismos (insetos, ácaros) ou micro-organismos (vírus, fungos, bactérias), e também de produtos que combatem doenças. Ao todo, representam 1,7% das formuladoras de biológicos no mundo, segundo a ABC Bio. Os Estados Unidos têm 50,4% da fatia mundial desse mercado e 41% das patentes dos produtos.
“Para aumentar nossa produção, novas empresas vão ter que surgir. De qualquer forma, o caminho é os micro serem produzidos pelas multinacionais – que detêm recursos para isso e condições de fazer um controle de qualidade – e os macro ficarem com as pequenas empresas”, afirmou Parra, citando o excesso de mão de obra como um obstáculo que ainda reduz a margem de lucro das pequenas indústrias. “No interior de São Paulo, conheço caso de empregador que tem hoje 400 funcionários, isso é muito”, disse.
Mesmo assim, a síntese de um produto biológico ainda é mais barata do que de um químico, custando de US$ 2 milhões a 10 milhões, enquanto um agrotóxico pode custar US$ 250 milhões. No Ministério da Agricultura brasileiro, foram registrados até o início do ano 118 produtos biológicos, sendo apenas 10 deles para controle de doenças. Nesse campo específico, o pesquisador Wagner Bettiol, da Embrapa Meio Ambiente, acredita que faltem investimentos em pesquisa e descobertas mais assertivas. “Os estudos não são realizados nas condições agroecológicas de uso. Se faz muita coisa in vitro e, no laboratório, é espetacular o efeito, mas em campo não funciona”, disse Bettiol.
Para conquistar a confiança do agricultor é preciso não só oferecer um produto de qualidade e ensinar técnicas de manejo adequadas, mas superar uma barreira que vem lá de trás. Nos últimos 12 anos, a utilização de agroquímicos aumentou 162% no Brasil, enquanto a média global ficou em 90%. “Existe sim a cultura do produtor de preferir o agroquímico”, afirmou Parra. E Wagner Bettiol foi além: “Não é só uma cultura dos agricultores, é dos agrônomos, pesquisadores e professores. Todo mundo conhece bem o controle químico, apesar de 25% dos pós graduandos em Entomologia no Brasil seguirem pelo ramo do controle biológico”, disse. Na opinião de Parra, a aceitação só aumenta, principalmente, depois do aparecimento da Helicoverpa armigera no Brasil em 2013 – praga que teve seu controle baseado no uso da tecnologia Bt.
Diante desse inimigo, o transgênico se mostrou eficiente, mas não é solução para tudo. “Precisamos criar mecanismos para fazer amostragem das populações de pragas em grandes propriedades e promover a transferência de tecnologia entre regiões com climas muito diferentes”, disse Parra, porque disso também depende o sucesso do controle biológico. Outros desafios no horizonte são a evolução das técnicas de aplicação, de modo que haja compatibilidade dos biológicos com outros produtos, e a criação de uma legislação específica para o setor.
Por enquanto, o que se sabe é que o potencial do mercado é gigantesco. Seja para atender exigências de importadores, que devolvem mercadorias com resíduos, seja pela pressão da sociedade por uma agricultura mais sustentável ou em função da própria resistência das pragas aos inseticidas, os biológicos estão aí para serem um dos pilares do manejo integrado.
Fonte: DBO
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